Agora, com a China a um passo de dominar todo o globo, temos o panorama político português e europeu enxameado de loucos que dizem que, entre os EUA e a China, preferem a segunda.

— Que evento político te inspira?

— O Massacre de Tianamen. Comoveu-me o jovem que se pôs, sozinho,  à frente de um tanque blindado, após o banho de sangue e os milhares de mortos.

— A tua solidariedade com o povo chinês é bonita. Mas não te esqueças que jamais será recíproca.

Em 2003, este foi, sensivelmente, um dos meus diálogos com o deputado e historiador José Medeiros Ferreira, com quem tive uma profunda amizade até à sua morte. E que foi meu mestre. Referia-me, óbvio, à mortandade de 1989, perpetrada pelo governo da República Popular da China, através da força militar, perante as manifestações pacíficas. Que morticínio!

Nunca mais me esqueci das palavras desse amigo, que era mesmo  um “profeta desarmado”, como gostava de se auto-intitular, citando Deutscher.

Como era nova e inexperiente , inicialmente achei a sua posição agressiva e pessimista.  Porém, o tempo veio a dar-lhe duplamente razão. Realmente, a China jamais será cooperante, tão pouco piedosa, com o Ocidente. Pensar o oposto é que é fantasista. Em segundo lugar, 2025 está pejado de solidários com os chineses, não por utopia (como eu estava) mas por toleima ou psicopatia. Afinal, por estes dias, e a propósito das tarifas Trump, não param de chover políticos e comentadores que criticam o presidente americano por fazer frente à China, cuja supremacia, desde a computação quântica ao cinema, passando pela inteligência artificial ou a engenharia genética, é mastodôntica. Colossal.

Isto para não falar de como, entretanto, através dos seus investimentos em infraestruturas e em dívida pública estrangeira, diplomacia e muitos patrocínios (inclusive em Portugal), domina grande parte da Ásia, África, América Latina e até Europa (daí que muitos embarquem nesta insanidade não por ingenuidade mas por interesses).

A nova rota da seda envolve atualmente 154 países. Por isso, estavam à espera de quê? Que os EUA continuassem a tolerar que a China nem sequer deixe entrar alguns produtos, bloqueie as nossas redes sociais e canais informativos, enquanto a entrada dos deles em solo americano ou europeu tem via verde? Trata-se de geoestratégia!

Claro que a China alavanca este desenvolvimento económico na opressão do seu povo, ao estilo de Tianamen.

E será esse género — créditos sociais e identidade digital, prisões e desaparecimentos de críticos e dissidentes, limitações à mobilidade (cidades 15 minutos), morte das liberdades públicas e dos direitos individuais — que prevalecerá na dominação do mundo que está para breve.

E quando a China der a patada final em cima de nós, a bota cardada no pescoço dos europeus, acham que serão os chineses a serem solidários connosco e a meterem-se à frente desse tanque? Mesmo que quisessem, não poderiam. Por favor. Menos ingenuidade. Já ninguém aqui tem 20 anos, embora esse seja outro dos problemas sobre o qual depois falaremos.

Ativista Política 

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