O ecossistema de empreendedorismo português tem crescido exponencialmente, demonstrando a sua resiliência ao encarar novos — e sucessivos — desafios. Ao observar as tendências político-económicas recentes, é de prever que o contexto continuará a ser marcado pela incerteza e que resultará em novos desafios, pedindo por formas inovadoras e criativas de os contornar.

O acesso a investimento tornou-se mais rigoroso, com os investidores a dar preferência por modelos de negócios com métricas robustas, propostas de valor claras e equipas fortes. No entanto, apesar deste clima de incerteza económica e política, acredito que o seu efeito na disponibilidade de liquidez destinada à inovação será limitado. As taxas de juro de referência têm seguido uma tendência descendente e, cada vez mais, a inovação é um fator essencial para a competitividade das empresas.

Por exemplo, os fundos americanos — que desempenham um papel crucial nos ecossistemas internacionais, entre os quais Portugal — continuarão a procurar soluções disruptivas com escala global, e as startups com propostas de valor inovadoras continuarão a atrair capital, independentemente do contexto político. Não obstante, as startups enfrentam desafios como a pressão por consistência e transparência no ajuste de estratégias e mitigação de riscos.

Passando para o contexto  europeu, encontramos desafios relevantes e urgentes de serem resolvidos, como a regulação e a burocracia. De acordo com o estudo “O estado da tecnologia europeia” da Atomico, 47% dos fundadores apontam-nas como os principais desafios na Europa. Em Portugal estes temas têm especial relevância, como por exemplo nos vistos, dado a inovação ser uma área estratégica para o país. Estes desafios acabam por retardar o crescimento das startups e dificultar a atração de investimento estrangeiro. Se o objetivo é apostar na inovação como motor de desenvolvimento económico, é essencial ter como foco a criação de um ambiente competitivo e atrativo, que implica uma  reforma ambiciosa destes processos, enquanto é promovida uma desburocratização e revisão da legislação, passando-se de um excesso de regulação para uma “facilitação responsável”, para que as startups possam inovar e crescer a partir de cá.

Este ano, o desafio do empreendedor em Portugal não difere do resto do mundo: é necessário a aposta em modelos de negócio disruptivos e o reforço das métricas, por forma a assegurar a atratividade junto dos investidores quer nacionais quer internacionais, temas críticos que temos vindo a apoiar as scaleups no programa de ScalingUp. O país apresenta, enquanto catalisador do empreendedorismo, as condições para atrair, crescer e se destacar no palco internacional, e estou convicto que continuaremos a ver mais startups nacionais a ir além-fronteiras. No entanto, o grau de sucesso dependerá também da capacidade do país dar resposta aos obstáculos acima mencionados: superar constrangimentos regulatórios e burocráticos, atrair o interesse de investidores internacionais, e criar um clima favorável para o crescimento e retenção de startups com propostas de valor significativas.

Estes fatores em articulação com a colaboração, talento, visão estratégica e ligação com outros ecossistemas - como já iniciámos, como por exemplo com o nosso programa “Clean Future”, desenvolvido em colaboração com as cidades de Marselha, Helsínquia e San Sebastian -, vão compor o plano de ação para o resto do ano. O sucesso dependerá da capacidade de dar relevo à inovação, implementar as mudanças necessárias, e reforçar os pilares que têm definido o ecossistema até hoje:  agilidade, colaboração e determinação.

Gil Azevedo, diretor executivo da Unicorn Factory Lisboa