Ao longo de mais de 20 anos no setor tecnológico e mercado B2B, construí uma carreira num ambiente em que a desigualdade de género sempre foi percetível — dos cargos de desenvolvimento às posições de gestão e liderança essa realidade estava presente. Este desequilíbrio não é apenas uma questão de representatividade, mas sim uma oportunidade perdida de inovação e crescimento. É por isso que programas como o "Girls in STEM" são tão necessários — para abrir portas e inspirar as futuras gerações a contribuírem de forma plena num setor onde ainda estamos sub-representadas.
Na Web Summit 2024, a ministra Margarida Balseiro Lopes apresentou o programa "Girls in STEM", um marco importante para promover a igualdade de género em áreas como a ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Durante o painel "Human Centred GovTech", reforçou-se a urgência de criar iniciativas que incentivem mais mulheres a ingressar em setores tradicionalmente dominados por homens, como o da tecnologia.
Os números falam por si. Mesmo num país como Portugal, que supera a média da UE27 na percentagem de mulheres em STEM, a desigualdade é evidente. Em 2021, apenas 37,7% das diplomadas em STEM eram mulheres. Nos dias de hoje, não é aceitável. Não para as mulheres, não para o setor tecnológico, e certamente não para o futuro da inovação global.
Pessoalmente, recordo-me de como poderia ser desafiante quando iniciei no mundo tech. Os modelos femininos eram raros, e o apoio direto às mulheres praticamente inexistente. Hoje, temos referências como a Sofia Tenreiro da Deloitte, a Isabel Reis da Dell, Daniela Braga da Defined.ai ou a Sofia Marta da Google Cloud Portugal, e iniciativas como a Women in Tech ou as Raparigas do Código, que mostram às jovens e mulheres que há espaço para elas e que, com as ferramentas certas, podem ir muito mais longe.
A entrada de mais mulheres em STEM não é só uma questão de "justiça social". É uma necessidade estratégica. A diversidade de perspetivas transforma equipas, fortalece projetos e impulsiona a inovação. Estudos demonstram que empresas diversas são mais inovadoras, mais colaborativas e até mais lucrativas. Assim, não se trata de uma questão de equidade, mas de um investimento inteligente no futuro do setor.
No entanto, as barreiras persistem. Culturais. Institucionais. Pessoais. É por isso que precisamos de soluções práticas, como parcerias entre o setor público e privado que possam garantir que estas iniciativas têm um impacto amplo e sustentável. Promover mais programas de mentoria, que conectem jovens mulheres com profissionais experientes, ajudando-as a navegar nas suas jornadas. E também políticas de apoio à família, como bolsas de estudo e apoio a mães trabalhadoras, que permitam às mulheres conciliar diferentes aspetos das suas vidas.
Como alguém que construiu uma carreira no mercado B2B com muito tempo dedicado ao setor tecnológico, sinto uma enorme responsabilidade em apoiar a próxima geração. Acredito que, ao dar às jovens mulheres a oportunidade de explorar o seu potencial em STEM, estamos a contribuir para um setor mais forte, mais inclusivo e mais inovador.
Este passo do governo, estas referências e programas não são só simbólicos, são faróis. Dizem às jovens: "Pertences aqui." Criam espaços onde meninas podem sonhar, inovar e acreditar no próprio potencial sem medo de julgamentos baseados no género. A minha esperança é que juntas, através deste tipo de programa, construiremos um setor tecnológico que finalmente irá refletir o que sabemos há séculos: as mulheres pertencem onde as decisões estão a ser feitas.