
Santa Fernandes, 72 anos, responsável por um minimercado no Plateau, centro histórico da cidade da Praia, diz estar a assistir a um aumento de criminalidade.
Há duas semanas, o seu estabelecimento foi assaltado antes da abertura: tiraram o telhado, furaram o teto suspenso e entraram, causando prejuízos superiores a 80 mil escudos (725 euros).
Graças a imagens de videovigilância, o assaltante foi identificado pela polícia e o caso está em tribunal, mas outros casos continuam por resolver.
Santa Fernandes diz que, na mesma altura, outras duas lojas foram assaltadas.
"Fiquei muito triste, porque a nossa cidade é pequena" e devia ser possível "agarrar estes criminosos", lamenta.
Na loja "Meu Super", no bairro de Achada de Santo António, a subgerente Ana de Brito e a equipa viveram momentos de pânico, há cerca de um mês, quando se preparavam para fechar, às 21:00 (23:00 em Lisboa).
Três homens encapuzados e armados entraram no local, sem clientes, levando cerca de 400 mil escudos (cerca de 3.600 euros), além de outros bens: "Não fomos agredidos", mas "apontaram as armas para pegarem o que queriam".
"Fiquei a tremer e a pensar nos meus filhos, sozinhos em casa", relata, afirmando que o medo duplicou, após saber que, na mesma altura, "outros estabelecimentos também foram assaltados".
"Todos estamos com medo de trabalhar, porque estamos a correr perigo", acrescenta.
Ao lado do minimercado, está a Livraria Nhô Eugénio, que foi assaltada dias depois.
Rui Furtado deixou Portugal, país natal, há dez anos, para gerir a livraria.
O estabelecimento foi assaltado durante a noite: foram roubados 58 mil escudos (526 euros) e bilhetes para o Kriol Jazz Festival, avaliados em 500 mil escudos (cerca de 4.500 euros).
"A porta estava aberta quando cheguei de manhã e chamei a polícia", refere.
"Acho que devia haver polícia a circular por aqui, porque, no final do dia, isto fica deserto. Sinto receio, à noite, e vou ter de pensar numa opção para fechar mais cedo", acrescenta.
Alexandre Lopes, sacerdote e responsável pela loja Agro-Trindade, no Bairro Craveiro Lopes, também foi alvo de um assalto.
"Assaltaram a loja, à noite, levaram a caixa com o dinheiro das vendas e um computador. O prejuízo foi de cerca de 100 mil escudos (900 euros)", contou.
O caso está sob investigação do Ministério Público, mas Alexandre teme pela segurança no bairro e na cidade.
"Tivemos de reforçar a porta de ferro. Continuamos a trabalhar, mas com incerteza, porque há uma grande insegurança na cidade da Praia", refere, ao retratar a sua perceção sobre a segurança na capital.
A Polícia Nacional ganhou esta semana um novo diretor, o superintendente Jorge Andrade, empossado na terça-feira, após terminada a missão de Emanuel Moreno.
Questionado sobre as queixas de insegurança, o novo responsável disse à Lusa que a corporação "tem feito o seu trabalho e muito bem".
"Reconheço que talvez falte alguma comunicação, mas nós não podemos ter a preocupação de comunicar cada detenção. Isso não é possível", referiu.
"Temos consciência de que precisamos melhorar", concluiu, na sua primeira declaração após assumir funções.
Há duas semanas, os dois partidos da oposição em Cabo Verde defenderam a necessidade de políticas públicas eficazes que promovam a proximidade entre polícia e comunidades para enfrentar as causas estruturais da criminalidade e garantir a segurança no país.
Em março, a Polícia Nacional anunciou que Cabo Verde registou uma redução de 10% na criminalidade em 2024, com 22.524 ocorrências, menos 2.314 do que em 2023.
De acordo com a mesma fonte, nos últimos dez anos houve uma redução acumulada de 11% nas ocorrências criminais no país.
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