Em "O Rapaz da Montanha" as músicas cantadas têm todas letras "exclusivamente em português", e talvez isso fosse suficiente para Rodrigo Leão dizer, em entrevista à Lusa, tratar-se do álbum mais português que já editou nos mais de 30 anos de carreira a solo.

Mas é também pela influência, que o músico considera "muito presente" nos 16 temas, "do universo musical dos anos 1970 em Portugal" e de artistas como José Afonso, José Mário Branco e Fausto, "absolutamente génios deste período da música portuguesa e que ficarão para sempre na memória de todos".

Além de ser o disco mais português que já fez, "O Rapaz da Montanha" é também muito diferente dos últimos trabalhos de Rodrigo Leão, embora seja possível identificá-lo como seu.

"É evidente que há uma ligação. Mas acho que o meu público já está habituado a que os trabalhos que eu edito sejam muitas vezes diferentes uns dos outros, até porque a minha música tem tantas influências, que vão do tango à música pop britânica, passando pela música clássica ou a música brasileira", referiu.

Ser "muito diferente" dos últimos faz de "O Rapaz da Montanha" um disco "um pouco inesperado".

"Ao contrário de outros trabalhos, em que intuitivamente vou procurando ideias, ainda sem saber bem ao que vão dar origem essas ideias, neste disco eu sabia que tinha um percurso que tinha de tentar seguir", partilhou.

Na origem disso esteve a canção "Cadeira Preta", tema que compôs há cerca de três anos, com Ana Carolina Costa, autora da maioria das letras do álbum e mulher de Rodrigo Leão.

"No dia seguinte fiquei com uma imagem na cabeça de um disco que podia fazer no seguimento dessa canção. Acho que foi a primeira vez que me aconteceu na vida", contou.

O processo de composição de Rodrigo Leão e Ana Carolina, a pessoa que "conhece melhor todo o processo de composição" do músico, acabou por ser diferente do habitual.

"Desta vez, em vez de passar melodia com som de piano, passei comigo a cantar. Acabou por ser o processo de trabalho para estas canções, eu a tentar fazer experiências com a voz", referiu.

A voz de Rodrigo Leão acaba também por estar incluída nos coros de alguns temas, do qual fazem também parte alguns dos filhos, a mulher e músicos que com ele trabalham há muito tempo.

"Existe mais uma vez uma cumplicidade muito grande neste trabalho entre as pessoas que estão mais perto de mim e a quem vou mostrando as minhas ideias", disse.

Além dos músicos que o acompanham habitualmente, e que nos espetáculos deste álbum são sete, "O Rapaz da Montanha" conta com a participação, entre outros, José Peixoto, "guitarrista extraordinário" com quem tocou nos Madredeus, o músico e compositor Gabriel Gomes, amigo de adolescência com quem tocou em Sétima Legião, o acordeonista Carlos Pereira e o cantor Francisco Palma.

"É mais uma vez um disco com este ambiente muito familiar, que é importante para a música que faço, porque partilho as minhas ideias com quem está mais perto de mim. Será dos discos onde se sente mais a presença do grupo e das pessoas que ajudaram a construí-lo", disse.

Este é também um álbum onde há mais percussões tradicionais - adufes bombos, tambores -, que para o músico "marcam muito a sonoridade deste trabalho".

Rodrigo Leão inclui "O Rapaz da Montanha" no projeto Os Portugueses, que começou com a banda sonora que criou para o documentário "Portugal, um retrato social", da autoria de António Barreto e realizado por Joana Pontes.

Nesse projeto, o músico incluiu, além da banda sonora, instrumental, as "poucas canções" cantadas em português que tinha na altura e todas as outras que foi fazendo depois.

Em janeiro, o novo álbum foi apresentado ao vivo no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e em março na Casa da Música, no Porto.

"Correu muito melhor do que eu esperava. Acho que o público recebeu bastante bem. Estamos muito contentes, mas o público podia reagir de maneira diferente ou estranhar esta mudança, principalmente em relação aos últimos trabalhos", referiu.

O álbum devia ser apresentado hoje ao vivo no Teatro Municipal da Guarda, mas a programação deste equipamento foi suspensa durante os três dias (quinta-feira, hoje e sábado) de Luto Nacional decretados pelo Governo português pela morte do papa Francisco.

Em 06 de maio, "O Rapaz da Montanha" vai até Madrid.

Além disso, o músico tem também agendados espetáculos de Sétima Legião, Os Poetas e de álbuns mais antigos.

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