
Bernardo Moreira, João Moreira, João Mortágua, Bernardo Couto, André Santos, Luís Cunha, Desidério Lázaro, Bernardo Tinoco e Diogo Alexandre são alguns dos intérpretes que participam em "Cantomilo", um álbum com origem na pandemia, nascido por influência do pianista Filipe Melo.
"O disco surge no início da minha licenciatura em piano jazz, muito por incentivo do Filipe Melo - tanto o disco quanto o meu início pelo mundo da composição", explicou Estela Alexandre à agência Lusa.
No primeiro ano da licenciatura na Escola Superior de Música de Lisboa, o pianista e professor lançou-lhe o desafio de compor um original. A partir daí, "com a pandemia pelo meio", o disco começou a ganhar forma, à distância, "com gravações individuais e feitas de forma caseira".
"Julgo que no segundo ou no terceiro tema ele sugeriu: 'Por que não fazer disto um disco?' Aquilo na altura pareceu-me assim uma loucura. Não tinha planeado nada daquilo, nem este início pela composição, muito menos um disco", reconhece.
Mas assim surgiu um álbum "com várias particularidades, porque nasceu na pandemia, e nós quisemos também preservar a forma como as coisas aconteceram".
"Cantomilo" integra as gravações da pandemia, algumas feitas ao telemóvel - "foi só remasterizado" - mas também com trabalho de conjunto da orquestra, que esteve em estúdio em setembro de 2024: "É percetível essa evolução, não só das composições - que acho que fui progredindo também - mas também de qualidade das gravações, que foi melhorando".
Essa evolução faz do primeiro disco de Estela Alexandre "um bocado um trabalho documental", porque fixa a progressão, tanto da compositora como das interpretações, dos primeiros exercícios ao resultado final.
Reunir meia centena de músicos num disco aconteceu com naturalidade. "Fui percebendo os músicos que estava à procura exatamente", a nível artístico, mas não só: "Há uma preocupação também de convidar músicos que admiro musicalmente, mas acima de tudo, e principalmente quando começámos a trabalhar presencialmente, convidar pessoas que admirasse e que tivessem qualidades para além de músicos".
Estela Alexandre destaca o "lado humano" dos envolvidos, que "é muito importante para que a música também tenha outro impacto".
"Há uma entrega diferente na música e acho que isso se reflete também na música", sublinha.
Mas, apesar de juntar nomes consolidados e novos valores do jazz nacional, de a própria ter estreado já este ano a sua formação em nome próprio, a Estela Alexandre Orquestra, no I Festival Internacional de Jazz de Oeiras, e de ter vencido as duas últimas edições do Concurso Internacional de Composição de Leiria na área do jazz, a artista evita descrever "Cantomilo" como um disco jazz.
"Não sei muito bem se a minha música é jazz, mas certamente traz alguma influência", devido à formação e percurso próprios, reconhece. "Mas tive muitas vezes dúvidas se seria o jazz o meu caminho", acrescenta.
Nesta estreia, as composições refletem a relação com o jazz, mas a música evidencia também a predileção por bandas sonoras. "De alguma forma tento retratar algumas imagens, mas não é uma preocupação consciente".
A comprovar a diversidade estética, Estela Alexandre antecipa que no disco há um arranjo de "Coisas", um tema dos Ornatos Violeta, uma homenagem à música portuguesa e a Carlos Paredes e uma versão de "Strange fruit", canção da década de 1930, celebrizada pelas vozes de Billie Holiday e Nina Simone, que denuncia os linchamentos de cidadãos negros, nos EUA, pelo Ku Klux Klan.
"Cantomilo" vai buscar o nome à pequena localidade onde a compositora passou a pandemia, em Leiria, e tem lançamento agendado para 09 de maio.
O concerto de apresentação é no dia 11 do mesmo mês, pela Estela Alexandre Orquestra no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, de onde a compositora é natural.
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