A morte de um(a) amigo(a) é considerada menos dolorosa do que a de um membro da família, mas dependerá do tipo de vínculo que nós estabelecemos com essa pessoa. Eu considero alguns amigos, poucos, como alguém que faz parte da minha vida, alguns confidentes e próximos de mim.
Diria que a cumplicidade supera laços familiares e é o expoente máximo da amizade.
Há familiares que para além de familiares são meus amigos, todavia, há familiares com quem não tenho qualquer tipo de relação há vários anos, esse vínculo não passa da árvore genealógica, são familiares porque são, não passa disso.
Eu tenho este lado idiossincrático, incomum, excêntrico e esquisito. Ser família não é situação sine qua non para eu ter uma boa relação e ser amigo desse familiar. Tenho alguns familiares que me detestam, sem eu nunca lhes ter feito mal nenhum, e eu desforro-me com a reciprocidade. Há familiares que me lembro de ver só em funerais – anteriormente, era em casamentos e batizados –, com quem a minha relação é meramente formal e circunstancial. Esses familiares nunca me contactam, nem eu a eles. A relação é meramente circunstancial e o que nos faz estar juntos são acontecimentos ou pessoas. Nunca isso acontece de motu proprio.
Perder um amigo de quem gostamos custa muito, pois, perdemos algo de agradável que tínhamos nas nossas vidas, alguém que nos conhecia, nos entendia – e o melhor, sem ter problemas de heranças e partilhas.
Sou completamente a favor de se expressar as emoções e o que se sente pelos outros em vida e não quando se morre. Esse hábito tão português de enaltecer os outros já deitados – defuntos, sem capacidade de retorquir ou de ter essa emoção de ouvir falar de nós. Por outro lado, uma boa maneira de se superar a morte de um amigo é falar dele, das coisas boas que se partilha em vida e da sua maneira de ser. É melhor focarmo-nos em momentos felizes e evitar reforçar momentos traumáticos, reforçar os momentos anedóticos e de humor.
Há amigos com quem se deixa de falar por algo mesquinho e sem sentido e é uma perda nas nossas vidas, desapareceram, no fundo morreram para nós antes do tempo. Tenho saudades de alguns amigos que foram desaparecendo do meu rasto e da minha vida. A alguns, apetece-me ligar-lhes, mas não o faço. Eu tenho tanta obrigação de os contactar como eles têm para comigo. É pena, pois essa relação vai-se desvanecendo.
Costumo dizer que família são muito poucos, os mais chegados: quem vive connosco, filhos e pais. Os irmãos são família chegada, mas depende com quem casaram ou vivem.
Eu gosto de ter amigos e cultivo isso. Devia definir-se nas nossas vidas, sendo casado ou solteiro, poder estar com amigos ou amigas uma vez por semana. Seria uma boa forma de mostrarmos a nossa independência e a nossa saúde mental.
E, há uma máxima que diz tudo: "Podemos escolher os amigos, mas não escolhemos a família."
Fundador do Clube dos Pensadores