A saúde mental é um dos maiores desafios sociais e de saúde pública do nosso tempo.

Hoje, em Portugal, 1 em cada 5 pessoas enfrenta problemas de saúde mental. Cerca de 20% das crianças e jovens têm uma perturbação mental e quase 31% dos jovens têm sintomas depressivos moderados ou graves.

Estas não são meras estatísticas: são vidas afetadas, famílias que sofrem em silêncio, amigos que sentem a impotência de não poder ajudar. É imperativo que olhemos além dos números e vejamos as pessoas, cada uma delas com a sua história.

Apesar dos avanços dos últimos anos, continuamos a viver numa sociedade onde o estigma e a falta de acesso a cuidados adequados perpetuam o sofrimento silencioso de milhares de pessoas. O sistema público de saúde falha em responder de forma eficaz e rápida às necessidades dos cidadãos. Por esse motivo, devemos questionar-nos se estamos a fazer o suficiente.

Os dados são claros: o acesso a cuidados de saúde mental no Serviço Nacional de Saúde é limitado e insuficiente. Em várias zonas do país, os tempos de espera para uma consulta de psiquiatria ou psicologia podem chegar a seis meses. A saúde mental não pode esperar, e os atrasos no tratamento só agravam os problemas, com consequências económicas e sociais profundas para o nosso país.

Ainda há muito a fazer, mas uma gestão eficaz, menos centralizada e mais focada na escolha do utente será crucial para garantir o progresso. São necessárias reformas profundas no sistema de saúde, que passam pela complementaridade dos setores público, privado e social, pela liberdade de escolha dos utentes e por uma redução significativa das listas de espera, que impactam gravemente a área da saúde mental.

O direito de escolher onde e por quem somos tratados não deve ser um privilégio, mas um direito fundamental. Um sistema que permita a integração entre os setores público, privado e social não é apenas uma questão de eficiência, mas de dignidade. A saúde mental não espera…

Por este motivo, a Iniciativa Liberal apresentou no Parlamento medidas que combatam o estigma em torno da saúde mental e que capacitem cada um de nós a lidar com este tema.

Durante a pandemia, as consultas digitais de psicologia e psiquiatria ajudaram quem, de outra forma, teria ficado sem apoio. Ora, a medida do cheque-psicólogo anunciada pelo Governo e que entrou em vigor no final do mês de setembro, pressupõe que as consultas de psicologia sejam dadas em gabinetes de apoio sediados nas próprias Instituições de Ensino Superior. A Iniciativa Liberal defende que esta medida deve ser alargada ao formato online, permitindo que os estudantes possam aderir à mesma, mantendo a sua privacidade e sem terem o peso do estigma associado.

A par disto, a aposta na medicina preventiva pode salvar vidas. Se investirmos desde cedo, nas escolas e nos locais de trabalho, podemos prevenir que pequenos problemas se tornem mais sérios.

Por isso, é importante prepararmos a comunidade escolar, a começar pelo pessoal docente e não docente, dotando-os das ferramentas necessárias, através da formação contínua, para identificar precocemente situações alarmantes (encaminhando-as para os profissionais de saúde devidamente capacitados para tratar das mesmas), ao mesmo tempo que se inclui uma componente formativa nas escolas para os alunos, que dê um especial enfoque no combate ao estigma e à promoção do diálogo dos alunos sobre os problemas que sentem, incentivando-os a procurar ajuda especializada.

A liberdade de cuidar de nós mesmos é uma liberdade que todos nós devemos ter. O futuro da saúde mental em Portugal depende dessa nossa capacidade de criar um sistema onde cada pessoa tem a oportunidade de ser ouvida e tratada com a dignidade que merece. Porque cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. E sem liberdade para o fazer, não há verdadeira saúde, nem verdadeiro bem-estar.

Deputada da Iniciativa Liberal