O bairro do Areeiro, em Lisboa, tem como outros nesta zona da cidade (sobretudo Avenidas Novas e Alvalade) a sofrer um conjunto de transformações significativas ao longo da última década, e nem todas são positivas. A degradação do comércio local, a falta de espaços verdes em muitos bairros (caso, por exemplo, no Bairro dos Aviadores entre a Av de Roma e o Campo Pequeno e o Bairro dos Actores) e a necessidade urgente de melhorias na acessibilidade e segurança são questões que exigem atenção por parte das autoridades e da comunidade e que têm tido reflexo direto na qualidade e diversidade do comércio local.

Existem vários sinais que indicam a existência de uma grave crise no comércio local nesta freguesia de Lisboa: desde logo a quantidade de lojas vazias — algumas há mais de dez anos — nas zonas menos comerciais da freguesia e nos "centros comerciais" que ainda resistem na freguesia (como o Acqua e as Galerias Via Veneto), passando pela redução do número de funcionários por loja (onde antes havia estabelecimentos com quatro a sete empregados, agora, em muitos casos, restam apenas um ou dois), pela rotação de negócios, em alguns casos de quatro atividades diferentes num par de anos, que se observa em algumas zonas e terminando na multiplicação de lojas de duvidosa utilidade económica e que não existem noutros países da Europa como a imensa rede de lojas de conveniência, frutarias e lojas de telemóveis que se instalam e vão rodando entre diferentes propriedades nas ruas mais caras e comerciais da freguesia.

Esta mudança não é apenas um reflexo das dificuldades económicas do país, mas também da concorrência desleal imposta pelas grandes superfícies (as quais, por vezes, beneficiam de vantagens fiscais injustas) e plataformas digitais e, sobretudo, pelos preços especulativos do arrendamento comercial.

O comércio local é prejudicado pela existência — há muitos anos — de questões urbanísticas urgentes. A falta de atravessamentos pedonais adequados e de passeios rebaixados torna a circulação difícil, especialmente para pessoas com mobilidade reduzida. A segurança também é uma preocupação crescente: enquanto moradores e comerciantes apontam a necessidade de mais policiamento, a presença policial parece concentrar-se apenas junto a edifícios governamentais, como o Ministério da Administração Interna e alguns bancos e joalharias. Por outro lado, a falta de iluminação pública (em Lisboa, no inverno, faz-se noite a partir das 18.00) também afasta os potenciais comerciais das ruas a partir dessa hora.

Outro problema estrutural que afecta a qualidade de vida dos moradores e a atractividade do comércio é a falta de espaços verdes. A Avenida Almirante Reis, por exemplo, tem árvores concentradas apenas em algumas áreas, e os moradores pedem mais vegetação no separador central, além de bancos nos passeios laterais. Num contexto urbano cada vez mais denso, onde as ilhas de calor são uma realidade preocupante, a arborização adequada poderia melhorar significativamente a qualidade de vida.

Por outro lado, a calçada portuguesa, um ícone de Lisboa, sem dúvida, também se torna um problema no inverno, quando se transforma num perigo para os transeuntes devido à sua superfície escorregadia. A substituição ou adaptação deste pavimento em certas áreas poderia evitar quedas e tornar a circulação mais segura.

Um ponto de fricção constante entre moradores e comerciantes é a falta de lugares para carga e descarga. O estacionamento em segunda fila gera caos no trânsito e poderia ser minimizado com soluções mais bem planeadas. Este tipo de intervenção urbana não só beneficiaria os comerciantes, como melhoraria o fluxo viário da zona. Uma solução poderia passar pela criação de hubs logísticos de onde partiria uma rede de triciclos e bicicletas de carga ou pela criação de um novo tipo de estacionamento gratuito de muito curta duração (30 minutos) para uso por clientes e pela logística de abastecimento das lojas do comércio local.

No Areeiro, uma proposta de alteração que poderia merecer a atenção dos decisores seria a transformação da Praça de Londres, eliminando uma via no lado da Avenida de Paris para ampliar o passeio e criar um novo espaço verde. Tal mudança poderia trazer benefícios significativos para a convivência urbana e o meio ambiente e poderia ser usada, também, para a instalação de um ou dois pequenos quiosques.

O declínio do comércio tradicional no Areeiro é evidente. Nos últimos dez anos, a variedade de lojas foi reduzida drasticamente, com muitas mudando de ramo várias vezes para tentar sobreviver. O envelhecimento da população, especialmente na Avenida Guerra Junqueiro, onde a maioria dos moradores tem mais de 65 anos, agrava esta realidade, pois reduz a dinâmica de consumo na área.

Se nada for feito, o Areeiro poderá perder cada vez mais o seu carácter de bairro vibrante e dinâmico e tornar-se um espaço inóspito, dominado por lojas de serviços impessoais e um comércio descaracterizado. É fundamental que se desenvolvam políticas de incentivo ao comércio local, melhorias na infraestrutura urbana e um planeamento sustentável que equilibre crescimento económico e qualidade de vida para os moradores e comerciantes.

A cidade de Lisboa tem de decidir se quer preservar a identidade dos seus bairros ou se permitirá que desapareçam em nome de uma urbanização sem alma. O Areeiro é um caso emblemático dessa escolha.