Neste artigo mensal, o desafio é enorme. O meu colega, amigo professor doutor Luís Coelho sugeriu o tema da educação em Portugal. Não sendo um especialista na área, existem questões pertinentes que necessitam de diversas visões integradas para vislumbrar como iremos alterar o sistema educativo baseado em alicerces da I revolução industrial. Pretendo enquadrar a visão holística sobre a educação em Portugal, no prisma presente e futuro e se estaremos nós preparados para os desafios e oportunidades.
O modelo educativo em Portugal, como em outros países na União Europeia e no resto do mundo, tendo em consideração o avanço tecnológico do G20, está à beira de uma revolução sem precedentes, e o sistema educativo não está preparado para este salto quântico. As novas ferramentas tecnológicas de modelo linguístico para a aprendizagem e análise de dados, como o ChatGPT (EUA) e recentemente o Deep Seek (China), estão a alterar todos os paradigmas existentes de como devemos interagir com o conhecimento.
No entanto, a questão mais pertinente que coloco é: Será que o atual sistema educativo em Portugal está preparado para estas mudanças e, mais importante, estaremos nós a facultar formação aos alunos com as competências adequadas para prosperarem num mundo em transformação flash? Não sou um especialista na área, mas existem questões pertinentes que necessitam de diversas visões integradas para vislumbrar como iremos alterar o sistema educativo baseado em alicerces da I revolução industrial.
O país teve um percurso assinalável nos últimos 50 anos. Testemunhámos uma evolução notável do acesso à educação pública e à criação de um sistema universitário muito mais abrangente, que possibilitou o acesso a novas oportunidades, até então vedadas por diversos enquadramentos sociológicos e políticos. Esta abertura e investimento na educação possibilitou quase erradicar o analfabetismo nos jovens adultos e assinalar o progresso de Portugal. A adesão em 1986 à UE foi sem dúvida o ponto de viragem, desde políticas educativas alinhadas com a Europa a programas de intercâmbio como o Erasmus, investimentos em infraestruturas educativas, etc., o que possibilitou a Portugal adaptar-se a um mundo cada vez mais globalizado e acompanhar o início da primeira viragem tecnológica no mundo www (World Wide Web), na década de 80. Ainda assim, devemos reconhecer que o sucesso de Portugal na educação não está apenas nos resultados alcançados, mas na capacidade de se adaptar continuamente aos novos desafios. A revolução tecnológica, baseada em IA, coloca agora a educação portuguesa num novo ponto de inflexão, desafiando a adaptar-se a um contexto onde o acesso à informação já não é o principal obstáculo, mas sim a sua interpretação crítica, criatividade e aplicação no mundo real.
A integração da IA no sistema educativo em Portugal enfrenta oportunidades e desafios. Se observarmos a integração futura da IA no modelo de ensino português, este pode representar uma enorme oportunidade de personalizar os modelos de aprendizagem, permitindo que cada aluno evolua conforme o seu ritmo, com base nas suas necessidades e capacidades individuais. Neste enquadramento, a inteligência artificial, pode analisar o progresso de cada aluno e ajustar os conteúdos de forma a maximizar a aprendizagem e as temáticas.
Apesar de ser uma visão otimista, Portugal e o nosso sistema educativo enfrentam desafios estruturais que necessitam de ser coordenados e alinhados com diversas dimensões:
- Requalificação dos professores: Para que a inteligência artificial seja integrada eficazmente, é imperativo que os professores sejam formados para utilizar essas ferramentas de forma estratégica. Os docentes devem passar de simples transmissores de conhecimento para facilitadores de aprendizagem, onde a inteligência artificial serve como um apoio, e não como um substituto.
- Inclusão digital: Um dos maiores riscos da digitalização do ensino é a criação de novas formas de desigualdade entre o litoral e o rural. Muitos alunos, especialmente em regiões rurais ou de menores recursos económicos, podem não ter acesso adequado à tecnologia ou à internet, o que os coloca em desvantagem. Garantir que todas as escolas têm as infraestruturas tecnológicas necessárias e que todos os alunos têm acesso equitativo a estas ferramentas é fundamental para que estes novos modelos baseados em inteligência artificial sejam inclusivos e dinamizadores.
- Ética: O uso da inteligência artificial levanta questões éticas, especialmente no que toca à originalidade dos trabalhos dos alunos e ao plágio. Deve ser incutida uma cultura de responsabilidade digital, onde os estudantes aprendam não só a utilizar a IA para apoio na pesquisa e aprendizagem, mas também a questionar e verificar a fiabilidade da informação fornecida por estas ferramentas.
- Reestruturação do método de avaliação: A integração de inteligência artificial como ferramenta para resolver problemas matemáticos ou oferecer soluções para questões complexas, deve “obrigar” a uma reformulação do modelo de avaliação tradicional, baseado muitas vezes em testes de repetição de conhecimento, perde relevância. As escolas e universidades precisam de adotar novas formas de avaliar os alunos, focando-se mais na capacidade de aplicar o conhecimento de forma criativa e crítica. Avaliações contínuas, projetos colaborativos e a utilização de IA para trabalhos/projetos em rede podem ser a forma mais apropriada para medir o desenvolvimento do aluno e preparar para um mundo em rede e global.
- Modelos de aprendizagem híbridos: O futuro do modelo educativo em Portugal e no mundo será cada vez mais híbrido, combinando ambientes físicos e digitais. Os modelos de inteligência artificial permitirão criar ambientes virtuais que não sejam limitados por barreiras geográficas, e isto exigirá que as instituições invistam em infraestruturas tecnológicas e na formação contínua de professores e alunos, mas também cria desafios futuros para o ambiente familiar (recorde-se a covid 2020 e o impacto na vida social das famílias nestes modelos; é algo a rever e adequar).
Em suma, o sistema educativo português encontra-se num ponto de viragem crítico, em que a adaptação à revolução da inteligência artificial é inevitável. No entanto, a transição está a ser marcada por uma lentidão que ameaça comprometer a capacidade do país de preparar adequadamente as suas futuras gerações para um mundo dominado pela inteligência artificial.
A resistência ao abandono de métodos tradicionais e a falta de uma visão coordenada para integrar eficazmente a inteligência artificial no ensino são barreiras que precisam de ser superadas com urgência. Para que a IA seja um catalisador positivo na educação, o sistema precisa de uma reforma estrutural abrangente, mencionada nas dimensões acima mencionadas, ou seja, independentemente da origem socioeconómica dos estudantes e professores, todos devem ter acesso às mesmas oportunidades tecnológicas para o futuro tecnológico e a Europa encontra-se numa encruzilhada sem grande espaço de manobra face aos dois blocos económicos (EUA/China).
Se essas mudanças não forem implementadas de forma eficaz, o sistema educativo português corre o risco de ficar obsoleto, perpetuando um modelo de ensino que já não corresponde às exigências de um mundo em rápida transformação. A chave para o sucesso será a capacidade de o país agir com visão e rapidez, garantindo que a educação em Portugal não seja apenas reativa, mas também proativa e inovadora, moldando os cidadãos do presente para serem capazes de prosperar num futuro cada vez mais digital e global.