O agroturismo é uma alternativa sustentável e promissora para a integração das zonas rurais na cadeia de valor do turismo, não só promovendo a diversificação das atividades agrícolas, mas também a valorização dos territórios menos explorados com abordagens de valor acrescentado. A política agrícola comum (PAC), desempenha neste enquadramento turístico um papel central na dinamização de práticas agrícolas sustentáveis e tecnologicamente mais evoluídas, possibilitando novas oportunidades económicas para os agricultores e o interior de Portugal incentivando a preservação ambiental e o desenvolvimento comunitário.

O novo acordo da PAC 2023/2027, formalizado em dezembro de 2021, sendo um mecanismo legislatório aplicado desde janeiro/2023 em Portugal, é porventura o Santo Graal para uma PAC mais justa, ecológica, competitiva e assente no desempenho eficiente e permitindo a coesão territorial, englobando na sua génese práticas equitativas que possibilitem melhorar a segurança alimentar e fomentar o emprego em áreas rurais e ser mais inclusivo e adaptável a diversas regiões e áreas.

Esta mudança de paradigma da agricultura europeia e nacional não pode ser desenvolvida sem mecanismos de apoio financeiros em contexto europeu (ex: FEDER ou FEOGA), visto que as mudanças e investimentos a serem feitos para a sustentabilidade exigem não só o compromisso de partilha de conhecimento como risco empresarial; sem estas dimensões e enquadrando os benefícios da agricultura sustentável trata-se de um processo mais lento e com menores impactos ambientais positivos.

De acordo com o Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (2022), a dimensão do Plano Estratégico PAC tem um financiamento de 6,7 mil milhões de euros, dos quais 6,1 mil milhões de euros de fundos comunitários, incluindo apoios ao rendimento, programas setoriais e programas de desenvolvimento rural português a nível de Portugal continental e ilhas (Madeira e Açores), tendo em consideração a fragmentação do tecido empresarial agrícola.

Mas de que forma pode o Agroturismo beneficiar estes dois setores estratégicos para Portugal (Agricultura & Turismo)?

O segmento do agroturismo nacional pode ocupar para o turismo do futuro uma posição de relevo e holística na cadeia de valor do setor do turismo em Portugal. Com o enquadramento acima mencionado, pode e deve integrar de forma harmoniosa a agricultura, o turismo e o desenvolvimento rural, fomentando produtos de valor acrescentado para a exploração turística e agrícola. Isto porque este segmento pode funcionar como um catalisador para a vitalidade económica de zonas rurais, promovendo a sustentabilidade e a preservação cultural.

Na cadeia de valor do turismo, o segmento do agroturismo está simbioticamente conectado entre a produção agrícola e o consumo turístico, possibilitando novas fontes de receita para os produtores locais e o desenvolvimento de áreas rurais. Mas este posicionamento de que falo já é o presente e deve ser posicionado para o futuro. Digo isto porque existe um perfil novo de turista a emergir em Portugal e no mundo, onde o foco são as experiências autênticas e imersivas com a degustação de produtos agrícolas frescos e alinhados com as tradições locais com um toque de modernidade, sendo que o agroturismo traz valor a muitos outros setores adjacentes como a gastronomia regional, enoturismo e o artesanato.

Este pensamento, que podem até considerar holístico, sempre foi uma das alternativas mais viáveis económica e socialmente para fortalecer a diversificação da oferta turística e ser um modelo inclusivo com personalização e contacto com a natureza, algo com enorme procura após a pandemia.

O agroturismo tem a capacidade de alterar positivamente mentalidades, porque estamos a viver um período com imensos estrangeiros a viver em Portugal, com alguma sofisticação, que apreciam explorar os segredos deste nosso país, o que em certa medida ajuda à sustentabilidade da cadeia de valor turística, ao incentivar novos conceitos de agroturismo com práticas agrícolas sustentáveis, de forma a proteger o ambiente natural, pela promoção do consumo consciente como valorização dos produtos locais, reforçando a economia circular, regenerativa e inclusiva dos pequenos produtores, permitindo uma maior coesão territorial e redistribuindo os fluxos turísticos de forma mais equilibrada e a médio longo-prazo contribuir para reduzir o despovoamento de algumas áreas rurais. Será o momento certo para alterar e investir no Agroturismo? Quero acreditar que sim!

O agroturismo tem demonstrado vivacidade e um crescimento interessante nos últimos anos em Portugal. Segundo a Confederação dos Agricultores de Portugal, o setor do agroturismo registou em território nacional um aumento de 12% no número de empreendimentos entre os anos 2019/2023, com destaque para a região Norte, Centro e Alentejo. Em contexto europeu, o agroturismo é um setor mais robusto gerando segundo o “European Federation of Rural Tourism”, aproximadamente 12 mil milhões de euros/ano, sendo os líderes de mercado França e Itália, mas tendo alguns países como Espanha, Áustria e Portugal um crescimento interessante e assinalável.

Na minha análise e visão o agroturismo é um catalisador positivo tendo benefícios económicos e sociais no presente e futuro como a diversificação do rendimento dos agricultores, possibilitando uma diversificação das fontes de receita face à volatilidade dos mercados agrícolas e alterações climáticas. A criação de emprego é crucial para o enquadramento inclusivo deste produto turístico em espaço rural, seja a nível direto ou indireto. E segundo a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, o  turismo em espaço rural criou aproximadamente 12.000 postos de tralho em Portugal (2023); e no futuro podem ser muitos mais, promovendo assim campanhas que reduzam o despovoamento e manter a transição ancestral de culturas locais.

O turismo anda de mãos dadas com a paz e a sustentabilidade, sendo que o agroturismo está alinhado com a Estratégia do Turismo 2027 de Portugal e a Agenda 2030 da União Europeia, promovendo modelos sustentáveis e com menor pegada ecológica e valorizando os recursos locais, promovendo o turismo responsável. Segundo o “Global Sustainable Tourism Council”, 70% dos turistas europeus afirmam preferir destinos que promovam práticas sustentáveis, o que reforça o potencial de crescimento do agroturismo em Portugal. Um dos elementos que considero cruciais na promoção deste produto turístico é a capacidade de desenvolver a coesão territorial e a revitalização demográfica dos espaços rurais, já que o incentivo ao desenvolvimento de infraestruturas turísticas em áreas rurais com uma estratégia diferenciadora no agroturismo contribui para uma melhor distribuição da riqueza e do desenvolvimento das regiões, reduzindo e mitigando as desigualdades económicas e sociais entre o interior e o litoral, tendo como base de alinhamento estratégico a politica agrícola comum (PAC) da União Europeia no seu quadro plurianual 2021/2027, para o desenvolvimento rural e sustentável.

O desenvolvimento do agroturismo, como qualquer outro setor ou inovação, enfrenta oportunidades e desafios que exigem perspicácia e atenção, isto porque existe a necessidade de uma maior qualificação profissional do turismo rural/agroturismo, melhoria das infraestruturas/transporte/comunicações em áreas rurais ou mais remotas e uma adaptação tecnológica para assegurar a sustentabilidade do investimento e posicionamento. Sem dúvida que existe um futuro promissor para o agroturismo em Portugal, alinhado com o apoio de políticas públicas favoráveis à diversificação económica e uma maior procura de um turismo imersivo/experiências nacionais e internacionais.

Em suma, o agroturismo é um produto estrela em ascensão que pode alavancar o desenvolvimento económico sustentável em espaço rural, equilibrando a balança entre as zonas urbanas e rurais, contribuindo para a coesão territorial e sendo as colunas que vão sustentar a construção de um futuro rural mais resiliente e inovador. Sendo que o agroturismo possibilita a conexão do turismo/agricultura e assim promove em sintonia o património cultural material/imaterial/natural nas comunidades rurais oferecendo uma experiência turística que possa refletir a nossa verdadeira riqueza humana, cultural e territorial.