
Às vezes os graffiti que se encontram nas paredes parecem feitos de encomenda para a situação política. Reparem neste — alguém se prepara para saltar por uma janela. Pode estar a entrar furtivamente nalguma casa; pode estar a preparar-se para fugir; ou pode querer saltar para o abismo. Cada um de nós pode escolher a opção que entender mais adequada.
Olhando bem para isto, creio que as recentes ações do primeiro-ministro atual cabem em duas possibilidades: estar a fugir ou atirar-se para o abismo, com o país atrás. Já a primeira opção, entrar furtivamente numa casa, pode vir a retratar alguém que no PSD esteja à espera de ver o que sucede a Montenegro para ir tomar sorrateiramente o seu lugar.
Algum escritor de romances policiais há de um dia escrever uma história baseada na investigação das razões que levaram Luís Montenegro a querer ser derrotado numa moção de confiança. Já a fuga é coisa frequente — Guterres, Durão Barroso e António Costa preferiram saltar para fora das responsabilidades que tinham ganho em eleições e, curiosamente, todos encontraram boas sinecuras para onde foram exercer os seus talentos, longe das agruras da pátria.
Há algo de paradoxal nisto: durante anos labutam para ganhar eleições, percorrem o caminho das cruzes das reuniões partidárias de menu único de carne assada, distribuem beijos em feiras. E depois, uma vez almejada a desejada vitória, começam logo a querer mudar de ares. Mais do que as dificuldades do governo, parece-me que lhes custa terem uma ação política fora da chicana das campanhas eleitorais. Estão viciados no confronto e claudicam no encontro de soluções, na negociação, no fundo no exercício do entendimento democrático.
Isto mostra-nos como, mesmo mais de 50 anos passados sobre a instauração da democracia, ainda se vive essa mesma democracia de forma imperfeita. Para estes políticos, o governo é um carrossel que mandam parar quando se sentem indispostos. Cada um vai à sua vida, mas o que fica aos solavancos é Portugal. Não me lembro de ouvir nenhum dos dois grandes partidos, PS e PSD, apresentar desculpas pelos atos cometidos pelos dirigentes que desertaram dos seus deveres.
O título do Financial Times sobre a atual crise diz tudo: "Portugal faces fresh elections after government collapses over ethics scandal". Talvez seja a altura de alguém explicar ao líder do PSD que há mesmo um problema de ética no seu comportamento.
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