Num destes dias, tive um encontro com uma entrevista ao músico Sting. Parei o que estava a fazer, ouvi-o e pensei como andam tantos, de áreas tão distintas, há anos – décadas, eu diria – a pensar as mesmas coisas. Confesso já ter dialogado com muitos artistas na minha cabeça. Com Sting foi a primeira vez. Nessa entrevista, Sting expunha, muito honestamente, a sua visão sobre o panorama musical da pop. Para ele, na atualidade, o que mais se destaca é o facto de as estruturas musicais serem muito mais simples e minimalistas, denunciando o desaparecimento das pontes musicais.

Grosso modo, as pontes musicais são uma secção contrastante que liga partes diferentes de uma canção, acrescentando variedade e profundidade. A sua função é trazer uma transição fresca, enriquecendo a experiência auditiva e ajudando a desenvolver a narrativa da música. Geralmente, está posicionada após os versos e refrões, explorando novos temas antes de voltar às partes mais familiares da canção.

“As pontes desapareceram” e eram elas que criavam ligações e possibilidades de incluir novas ideias, novos caminhos ou outros pontos de vista na música e que, por isso, se chamam pontes, por nos transportarem para o local na outra margem.

Sting deu um exemplo musical muito simples para a seguinte situação: Tema: “A minha noiva deixou-me. Sinto-me só”. Refrão: “Sinto-me só”. E isto seria repetido até ser encontrada uma ponte, i.e., um acorde diferente, como se introduzisse um novo pensamento “talvez ela não seja a única mulher fantástica do mundo” ou “talvez precise de ir procurar noutros lugares”. Isso trazia novos pontos de vista – representados por uma modulação, um novo acorde – como se sugerisse uma esperança, uma solução, uma qualquer ilusão que, em oposição ao abandono da noiva, pode sugerir que poderá ter sido bom, porque agora está livre para novas situações.

Foi, globalmente, uma ideia deste género. E continuou expondo que, para quem tinha sofrido um desgosto, esta poderia ser uma possibilidade de construção de narrativa musical que, neste caso, poderia propor uma cura: por um lado expunha os desgostos, mas, por outro, projetava novas possibilidades.

No desenvolver da entrevista, o músico indicou que na música moderna atual, na maior parte delas, a estrutura é circular, é uma ratoeira, um círculo vicioso. E ouve-se outra música, de outro autor e não se encontra a sensação de haver uma saída para a crise – a estrutura é circular, como a de um hamster. Solitário, produz cansaço sem sair do mesmo lugar, sem a ponte para a outra margem.

E, criando a analogia entre a crise musical e a crise mundial, com crises políticas, crises económicas, crises de valores, etc., conclui que, também nas artes, precisamos demonstrar que existe uma saída.

Eu diria que, de forma clara e simples, expôs a atual crise de narrativas. E de narração.

Doutorada em Educação Artística