"Queremos justiça." "Têm de nos ouvir de qualquer maneira." E a "justiça", a forma de chamar a atenção para o que reclamam ser "abuso policial" e "racismo", é trazer o caos e o crime ao próprio bairro em que vivem e a toda a comunidade, é regar as sementes do ódio de e contra todos os que lá vivem, ameaçar a segurança daqueles e dos que nada têm que ver com a lamentável morte de uma pessoa.

Não se pode simplesmente aceitar mortes assim — como as de outras três pessoas que há 15 dias foram baleadas por um criminoso numa barbearia, incluindo uma mulher grávida, ainda se lembra?... O caso tem de ser investigado e devia sê-lo sem a pressão mediática que já condenou um polícia que foi levado a disparar, sem conhecer as circunstâncias em que o fez. Mas seja qual for a conclusão, a violência que se libertou não tem justificação possível. Não há mágoa nem dor nem sentimento de injustiça que o motive — a menos que se defenda a vida sob a lei de olho por olho, dente por dente.

Ainda menos justificação tem o inominável ataque público que tem sido feito às nossas já muito fragilizadas forças de segurança. Nos últimos dez anos, morreram 15 civis às mãos das polícias. E morreram 15 polícias às mãos de criminosos. Os números estão no RASI. As forças de segurança regulares (GNR e polícias de giro) dispararam num ano inteiro 60 tiros. Parecem estas ser as estatísticas de polícias violentas?

Repito: ainda está por apurar o que sucedeu no caso da Cova da Moura, mas já não é aquela morte que está em causa — e isso é ainda mais triste. Nem sequer são os atos de violência policial, que têm de ser identificados e julgados, até para se libertar a polícia de um injustíssimo estigma que alguns permanentemente lhe tentam colar.

O que está à vista são duas noites de crimes praticados por traficantes, assassinos, delinquentes e outros bandidos que aterrorizam as suas comunidades e a vergonhosa defesa deles por quem os vai justificando com gritos de "racismo" e "abuso policial".

Basta ouvir os relatos de quem tem de viver entre estes bandidos. Basta ver as reportagens com as ruas cheias de miúdos pequenos a acenar às câmaras, em pleno horário escolar. Basta ver como um pequeno grupo que domina o bairro dita que jornalistas ali entram e quem podem filmar e escutar antes de terem ordem de saída.

Os bairros não estão na rua em protesto. Há, sim, grupos de criminosos que vivem nos bairros, que dominam os bairros e que estão a aproveitar um caso para espalhar violência, praticar crimes contra toda a sociedade e roubar o resto da já residual capacidade de ação das forças policiais. E o efeito disto tem sido bem visível na insegurança crescente das nossas cidades e na consequente identificação de cada vez mais pessoas com discursos radicalizados.

Se há discriminação e abusos das forças de segurança, denuncie-se nos locais e pelos meios próprios. Garanta-se que os casos têm seguimento e a lei se cumpre. Mas pretender que toda a polícia é culpada é ainda mais grave do que assumir que toda a gente que vive em bairros sensíveis é criminosa.

E quem faz a defesa de marginais e propaga esta generalização contra as polícias é tão culpado dos crimes das últimas noites como quem os comete.

Não são tumultos, desacatos ou protestos violentos. São crimes e graves. Os próprios assumem que agiram de forma a emboscar a polícia, fechando os bairros onde moram muitos inocentes, de cujas vidas eles não querem saber, com caixotes do lixo em chamas. Os próprios se escudaram atrás das suas próprias crianças, expondo-as ao perigo para se protegerem de qualquer reação. Os próprios  se gabam de continuar a queimar autocarros e automóveis e bombas de gasolina, de disparar tiros e petardos, de atirar pedras e garrafas contra quem quer ali entrar e de espalhar o medo, porque é este o método que privilegiam.

Tratá-los como "inocentes", "perseguidos" e vítimas de racismo e de violência policial" é como pôr armas na mão de criminosos. Generalizar, para um lado ou para o outro, é incendiar a sociedade, que está cansada de ver o crime prevalecer.