A minha resolução de Ano Novo foi simples: deixar de parecer um tapete de Arraiolos. Para quem não me conhece, eu nasci com bigode. Nisso saí à minha mãe, que tem a mania que é transmontana e dobra os Rs.

É engraçado como a existência de pelo seguiu uma constante inversamente proporcional na minha vida. Quando era miúdo, e parecia o produto de uma noite louca entre o Fernando Chalana e a Frida Kahlo, era pouco atraente para o público feminino e objeto de estudo no balneário. Desde cedo ouvi coisas como “tira a camisola interior” quando já estava de tronco nu ou “davas essas virilhas ao Rui Unas e ele fazia uma permanente”. Mas nunca me desmoralizou. Sempre acreditei que um dia a balança iria virar a meu favor.

E virou, quando aos 25 anos os meus amigos começaram a ficar carecas e aqui o Marco Paulo a proliferar em vegetação capilar. Tanto que, só para os chatear, decidi começar a fazer a depilação. E aqui está a constante inversamente proporcional: quando ninguém precisava de cabelo ou pelo no geral, eu tinha para dar e vender; quando todos à minha volta começaram a precisar, eu decidi voluntariamente eliminar o meu.

A escolha foi simples: laser. A minha mãe andava há algum tempo a dizer que eu precisava de fazer mais atividades de lazer, mas eu sempre fui mau a inglês.

Posso dizer-vos que estou absolutamente viciado. Em duas semanas de 2025, já fui seis vezes. Algumas até mais para o convívio, que há algo de reconfortante em estarmos deitados numa marquesa com umas cuecas descartáveis com consistência de saco para pesar fruta e uma pessoa passar-nos uma gosma fria no lombo enquanto pergunta se está tudo bem. Põe-nos a pensar.

Mas tenho de admitir que a depilação a laser é muito diferente do que pensava. Esqueçam o glamour que as influencers passam ao público. O laser é a zaragatoa da remoção de pelo. Mas eles são ratos. Começaram com uma primeira sessão grátis, sem compromisso, mesmo como eu gosto das minhas relações, para ver se me agarravam. Resultou.

A minha primeira foi uma técnica brasileira, que me surpreendeu pela suavidade da voz e rigor técnico com que tratava a sessão. Tratou-me com respeito, procurou o meu consentimento e, acima de tudo, fez-me sentir confortável com o duplo fio dental descartável e adjacentes nádegas. A meio da sessão, com uma voz quente, perguntou-me: “E aí, vai querer que eu passe na zona perianal?”. Bloqueei. Até àquela data, eu só tinha passe até à zona da Trindade. Não sabia o que fazer. Respeitosamente, rejeitei, e a sessão chegou ao fim.

O mês seguinte foi completamente diferente. Primeiro, a técnica brasileira desapareceu, qual especialista de recrutamento que faz uma primeira entrevista de emprego e nunca mais sabemos dela. Segundo, a minha técnica atual é portuguesa. E nota-se. Manuseia-me como se fosse um atum, vê o consentimento como um passo opcional, e, pior de tudo, trata-me por tu.

Insiste que eu faça a pré-depilação antes da sessão, como um prato que tem de se lavar antes de se pôr na máquina, e depois, independentemente do quão pré-depilado eu vá para a marquesa, insiste em passar a Gillette BIC que deve ter no bolso pelo meu corpo todo, como se estivesse a tirar as escamas a um robalo graúdo. Deve ser por isso que ela diz que a minha pele está a escamar. Pota.

Mas nada me fazia prever a forma como ela ia lidar com o meu ânus. Meus queridos, digo-vos uma coisa: o exame à próstata é para meninos. E eu sei bem, que tenho um amigo que joga padel e faz um todas as quartas-feiras.

Até vos contava essa história, mas hoje é quarta, e já estou atrasado para o padel.

Comediante Estagiário