A transição para uma mobilidade sustentável e elétrica não é apenas uma tendência global; é uma necessidade urgente. A União Europeia tem traçado objetivos ambiciosos para a descarbonização dos transportes, nomeadamente através da redução significativa das emissões de CO2, e a eletrificação do setor automóvel está no centro dessas diretrizes. Portugal, como membro ativo da União Europeia, tem uma responsabilidade acrescida em garantir que estas metas sejam cumpridas, tanto a nível empresarial como individual. E recentemente, o governo português aprovou em Conselho de Ministros um conjunto de medidas, no âmbito do Pacote Mobilidade Verde, que visa a melhoria da mobilidade de passageiros e mercadorias. Estaremos a caminhar para o comprometimento necessário para que a descarbonização e a transição para a mobilidade elétrica seja uma realidade para todos? A medida do passe ferroviário verde é, sem dúvida, um bom ponto de partida, mas há incentivos que deviam ser melhorados.

Se olharmos para a situação de Portugal, podemos considerar que há uma aposta significativa por parte do governo em impulsionar a transição das empresas para veículos elétricos. No entanto, os condutores particulares que desejam contribuir para uma mobilidade mais sustentável também devem fazer parte desta equação. Em termos de incentivos à compra de veículos elétricos para particulares, Portugal ainda está aquém da média europeia. O incentivo de 4.000 euros para ligeiros de passageiros até 38,5 mil euros não traz grandes novidades e é inferior ao que se pratica na maioria dos países da União Europeia, onde os valores são significativamente mais atrativos.

A União Europeia tem incentivado os seus Estados-membros a promoverem uma transição acelerada para a mobilidade elétrica, e países como a Alemanha, França e Países Baixos já adotaram medidas robustas para incentivar os seus cidadãos a trocarem os veículos a combustão por elétricos. Acredito que Portugal deveria acompanhar essa tendência, com um aumento do incentivo para a compra de veículos elétricos ligeiros de passageiros para o valor de 6.000 euros, como já acontece em França, por exemplo.

Adicionalmente, um outro aspeto que deve ser rapidamente considerado é a infraestrutura de carregamento. A transição para veículos elétricos depende, inevitavelmente, da existência de uma rede de carregamento eficiente e acessível, que transmita segurança a quem está a equacionar essa transição. No entanto, a realidade portuguesa nas nossas autoestradas precisa de ser melhorada, sobretudo para dar resposta aos períodos de maior circulação, como é o caso das férias de verão e da época de Natal. O atual condutor de um veículo elétrico não quer ter de enfrentar longas filas para carregar o seu carro, muitas vezes com apenas dois ou três postos de carregamento disponíveis nas estações de serviço.

A solução para este problema passa, sem dúvida, por uma agilização dos processos administrativos e legislativos que atualmente atrasam a instalação e a operacionalização de postos de carregamento. Podemos olhar para o exemplo de França, onde foi feita uma separação clara entre a concessão de estações de serviço e os postos de carregamento. Esta medida permitiu uma expansão significativa da rede de carregamento, facilitando o processo de instalação e eliminando obstáculos.

Em Portugal, muitas empresas já investiram em infraestrutura, mas deparam-se com processos de licenciamento muito morosos e burocráticos, que chegam a demorar dois anos para que um posto de carregamento atinja a sua capacidade máxima. Este cenário contraria a urgência da transição energética que o mundo enfrenta. Assim, defendo a implementação de  medidas que permitam às empresas desenvolver uma rede de carregamento adequada e acessível, sem constrangimentos burocráticos excessivos que podem contribuir para o atraso no crescimento deste setor, sem nunca prejudicar o acesso à rede de carregamentos e a experiência do consumidor final

A mobilidade elétrica é o futuro, e é neste sentido que Portugal deve caminhar. Para garantir que o nosso país acompanha o ritmo da União Europeia e cumpre os objetivos de descarbonização do setor dos transportes, é necessário um compromisso forte de todos os intervenientes. Esse compromisso deve materializar-se num aumento dos incentivos para os particulares, para que mais cidadãos possam fazer a transição para veículos elétricos, e numa revisão das leis e regulamentos que possam contribuir para o atraso da instalação de postos de carregamento.

Os tempos exigem ação e o Orçamento de Estado de 2025 deveria ser  a oportunidade ideal para o governo mostrar que está comprometido com um futuro mais verde, eficiente e sustentável. Só assim poderemos assegurar que a mobilidade elétrica não será apenas uma realidade para alguns, mas sim uma opção viável para todos.

CEO e Co-Fundadora da Miio