É o debate em praça pública: o mercado imobiliário está fora do alcance da maioria dos jovens em Portugal. Os preços das casas disparam a cada dia - e a cada metro quadrado - a um ritmo alarmante, numa altura em que os salários continuam perto de estagnados e sem previsão de subidas significativas. Será suficiente que o governo tenha atribuído incentivos na compra da primeira casa? Será que a correria atual por uma habitação própria permanente não está agora a escassear as opções acessíveis que existem no mercado? Aquele que deveria ser um momento de felicidade pode transformar-se, para alguns, num estado de desilusão em poucas visitas.

Este cenário torna-se difícil para os jovens por duas razões óbvias à partida: a baixa capacidade de compra de imóveis por parte dos portugueses até aos 35 anos e a falta de oferta acessível. Há anos que se discute quais podem ser as soluções para ajudar neste contexto e as casas abandonadas são sempre mencionadas. Quem mais tem sofrido são os residentes das grandes cidades, não só pela questão do preço, mas também porque se cruzam com centenas de casas devolutas por várias ruas de Lisboa ou do Porto, por exemplo. Existem milhares de casas abandonadas em várias zonas do país e, embora o IMI seja mais caro para os proprietários, não há legislação que ajude a converter este fenómeno num recurso para os portugueses.

A procura por uma casa esbarra também na falta de capacidade de investimento em construção nova, seja por si mesmos ou na compra de apartamentos em empreendimentos mais recentes. A este cenário podemos ainda acrescentar o complexo e demorado processo de licenciamento e aprovações. A sobrecarga desta burocracia aumenta não só o custo da habitação, como atrasa o aparecimento dessas opções.

Em muitos casos, apesar de os imóveis não serem perfeitos e de ainda assim existirem burocracias a ultrapassar, a solução passa por fazer obras de recuperação em estruturas já existentes – para as quais, a maioria dos jovens não consegue financiamento.

No meio de um cenário cinzento, muitos preferem emigrar. O atual governo defende que um dos principais motivos para a nova geração sair de Portugal deve-se ao facto de não conseguir comprar casa. No entanto, há um estudo da Randstad Research - “Mitos e realidade sobre os jovens e mercado de trabalho” - que pode contrariar essa teoria. Em 2023, apenas 1,1% dos jovens adultos entre os 20 e os 34 anos emigraram, representando quase 19 mil pessoas dos 1.736.908 jovens residentes em Portugal, um número que aumentou após a pandemia. Por isso, para quem por cá fica, a procura da casa de sonho continua.

Mais do que importante, é urgente criar uma solução quanto à pouca oferta de imóveis para as pessoas que estão a tentar o início de uma vida adulta. Os incentivos do governo mostram que existem planos para colmatar este problema, mas ainda há um longo caminho a percorrer, em especial num cenário que causa apreensão.

A criação de políticas públicas que impulsionam a reabilitação de imóveis abandonados e a construção de novos empreendimentos voltados para a classe média podem tornar a habitação mais acessível a todos, em particular aos jovens. Há anos que falamos em reter talento em Portugal, mas o fenómeno parece escapar-nos das mãos. No final de contas, o que os jovens pedem é tão simples como uma casa.

Diogo Mendes, Diretor de Marketing da Imovendo