Parece que ninguém conhece a idade dos agricultores portugueses. Assumo também a minha quota-parte de desconhecimento por, ao procurar os dados, ter ficado surpreendido.

Com efeito, é muitas vezes referido, seja por governantes seja pelo próprio setor, que Portugal é o país com os agricultores mais velhos da Europa, com a idade média dos mesmos a atingir 64 anos, com mais de metade a apresentar mais de 65 anos e apenas 10% a ter menos de 45 anos. Com uma pesquisa rápida na internet ou mesmo no ChatGPT obtêm-se dados em tudo semelhantes.

Pergunta: Isto é verdade?

Resposta: Não, isto não é verdade. Ou, se for, é uma verdade enviesada.

E porquê? Porque Portugal apresenta de facto agricultores com uma idade média de 64 anos e mais de metade têm mais de 65, mas se considerarmos apenas as explorações agrícolas detidas por agricultores singulares/individuais.

As explorações agrícolas de Portugal geridas por empresas apresentam dirigentes com uma idade média de 51 anos (13 anos inferior à dos produtores singulares), com pouco mais de 15% a estar acima dos 65 anos e um terço abaixo dos 45. E estas explorações agrícolas geridas por empresas já representam mais de um terço da área agrícola de Portugal, sendo responsáveis por deter mais de 50% dos animais presentes no país.

Pela substancial diferença é difícil de compreender porque é que, em termos comunicacionais, estes dados/indicadores relacionados com as empresas agrícolas têm sempre tendência a ser esquecidos/omitidos.

Talvez esteja na dificuldade de encarar a agricultura como atividade económica profissional (que exige investimentos e prevê lucros), ligada à manutenção de uma ideia romântica de uma atividade antiga e ligada às tradições dos nossos antepassados, a justificação para a contínua omissão.

Apesar do referido não se pretende de forma alguma diminuir a preocupação sobre a necessidade de rejuvenescer o setor agrícola e as zonas rurais. O que se pretende fazer sobressair é que exatamente que, para cumprir o desígnio de rejuvenescer a agricultura, talvez seja bom olhar com clareza para (todos) os dados para, a partir daí, desenhar as estratégias/políticas mais eficazes.

Nesta linha, pela análise dos dados acima referidos, parece claro que um maior grau de profissionalização ou “empresarialização” da atividade agrícola traz por arrasto uma maior capacidade de atrair jovens e de rejuvenescer o setor.

Face à importância do tema é, por isso mesmo, um erro crasso negligenciar os dados das empresas agrícolas quando se analisa a idade dos agricultores e sobretudo quando se desenham estratégias/políticas nesse âmbito.

Numa próxima oportunidade far-se-á a pergunta: "Ninguém conhece o nível de instrução dos agricultores?" Por reforçar o descrito neste texto refere-se de antemão que as conclusões serão em tudo semelhantes.

Engenheiro agrónomo