A guerra na Ucrânia não é apenas um conflito regional. Na minha opinião é um ataque direto aos valores democráticos e à segurança de todo o continente europeu. Desde o início da invasão russa, Portugal tem demonstrado solidariedade, com o envio de helicópteros Kamov e de três tanques (MBT) Leopard 2A6 tendo surgido recentemente a informação de 8 helicópteros Aérospatiale SA 330 Puma portugueses estariam em uso, desde 2024, na Ucrânia. Mas os desenvolvimentos recentes — com a aproximação crescente entre EUA e Rússia, a intensificação da ofensiva russa no leste da Ucrânia e em Kursk (usando dados norte-americanos com a localização de todas as unidades ucranianas), a presença de tropas norte-coreanas e o aumento da entrega de armamento (artilharia pesada) e munições por parte da Coreia do Norte e do Irão à Rússia — devem levar os países ocidentais a aumentar o seu auxílio à Ucrânia.
Ajudar a Ucrânia não é apenas "ajudar a Ucrânia": é prevenir as fases seguintes da "operação especial" russa que podem perfeitamente incluir numa primeira fase a Moldávia e a Geórgia e numa fase seguinte os países bálticos e o Corredor de Suwałki que liga o enclave de Kaliningrado à Rússia que se situa entre a Lituânia e a Polónia (atualmente, não existe um corredor terrestre direto controlado pela Rússia entre Kaliningrado e o resto do país, sendo necessário atravessar territórios de países da NATO (Lituânia ou Polónia).
Nos dias de hoje, a maioria dos tanques Leopard 2A6 que Portugal possui está inoperacional ou armazenada sem qualquer tipo de utilidade. Enquanto isso, a Ucrânia luta desesperadamente para manter a sua integridade territorial e resistir à agressão russa. Dispomos de meios que podem fazer a diferença, mas hesitamos em usá-los. Porquê?
Não se trata apenas de enviar armamento; trata-se de um compromisso com a liberdade e a defesa de uma nação soberana que enfrenta uma ameaça existencial. A recente aproximação entre os EUA e a Rússia só torna mais urgente que os aliados europeus assumam a linha da frente no apoio a Kyiv.
A entrega de até dez tanques Leopard 2A6 que estão imobilizados e sem uso nos armazéns portugueses não compromete a defesa nacional, mas fortalece a frente ucraniana, reduzindo simultaneamente os custos de armazenamento e manutenção destes equipamentos parados. Neste momento crítico, a inacção equivale a cumplicidade com a agressão.
Portugal tem uma escolha: permanecer passivo ou estar do lado certo da História. O envio destes tanques será um símbolo e um pequeno contributo da nossa determinação em defender a paz e a liberdade na Europa. Espero que alguém com capacidade de decisão leia estas linhas e faça o que está certo. Aguardo.
Rui Martins é fundador do Movimento Pela Democratização dos Partidos