Recentemente, ouvi pela primeira vez um executivo do TikTok referir-se à empresa não como um player de social media, mas como uma plataforma de entretenimento. A explicação para esta classificação reside no facto de o TikTok não ser, tipicamente, utilizado para a partilha direta com a comunidade, mas sim para a distribuição de conteúdos "fun" para toda a audiência.

Ou seja, o TikTok desenvolveu um modelo que conecta criadores de conteúdos com um vasto público interessado em vídeos curtos e divertidos, adicionando algoritmos que mantêm as audiências altamente envolvidas com a plataforma.

Resumindo, os fatores críticos de sucesso do TikTok são:

  1. Conteúdo curto e envolvente.
  2. Formato em vídeo.
  3. Algoritmo avançado que recomenda conteúdos relevantes para cada utilizador.

O sucesso meteórico do TikTok, que em pouco tempo se tornou uma das plataformas mais influentes a nível global, a ponto de figurar na "most-wanted list" de Donald Trump, sugere que esta fórmula pode ser replicada para outros tipos de conteúdos, como as notícias. Para que tal aconteça, os mesmos fatores críticos de sucesso devem ser mantidos:

  1. Conteúdo curto e, quando possível, cativante.
  2. Formato em vídeo.
  3. Algoritmo de recomendação eficiente para direcionar os conteúdos mais relevantes às audiências.

É evidente que este formato curto e em vídeo pode servir como porta de entrada para conteúdos mais longos e detalhados. No entanto, parece-me que o TikTok desenvolveu a receita certa: garantir o engagement com as audiências em 60 segundos ou menos.

Uma empresa de media que queira desenvolver um conceito semelhante precisa de estar preparada para disponibilizar uma solução robusta, com uma rede de correspondentes a trabalhar por peça, complementando o trabalho de uma redação estruturada para operar em larga escala na produção de conteúdos.

Com esta breve descrição do que poderá ser uma plataforma de notícias baseada neste modelo, antecipo reações críticas por parte da classe jornalística, acusando-me de heresia por sugerir um formato que, à primeira vista, pode parecer pobre em termos de qualidade informativa. No entanto, parto do princípio que, para garantirmos o acesso a informação independente e gratuita, é fundamental assegurar a sustentabilidade do setor dos media. Para tal, o modelo seguido por players globais como o TikTok pode ser a chave: mais conteúdos, maior engagement, mais dados e, consequentemente, mais receita.

Diretor de Negócios SAPO e presidente IAB Portugal