
O Festival Internacional de Cinema IndieLisboa, que decorre de 1 a 11 de maio na capital portuguesa, anunciou, esta terça-feira, que retirou da programação os filmes do português Ico Costa. Na origem desta decisão está uma carta aberta, difundida nas redes sociais, que denuncia agressões do realizador a mulheres. O cineasta já negou.
"Face ao surgimento de novas denúncias, o Indie Lisboa iniciou um processo de reflexão e análise que queremos partilhar publicamente. (…) Perante quaisquer dúvidas que persistam, a convicção do IndieLisboa no que diz respeito a estas situações é a de que se deve ouvir as vítimas. Por essa razão, decidimos retirar ambos os filme da programação do festival. Apelamos a que possa haver espaço para que os factos sejam apurados, para que todas as pessoas envolvidas sejam ouvidas e que se esclareça toda a verdade", lê-se no comunicado do festival de cinema.
Contactado pela agência Lusa, Ico Costa refutou todas as acusações, dizendo que a denúncia é falsa e que desconhece quem são as alegadas vítimas.
"É uma denúncia falsa, feita por parte de uma pessoa que nunca conheci. Essa pessoa não existe. [...] Sou contra qualquer tipo de cancelamento e as vítimas têm que existir e neste momento não existem", disse o realizador.
Questionado sobre a retirada dos filmes do IndieLisboa, Ico Costa disse que "é só mais um festival", porque 'Balane 3' já teve estreia noutros festivais.
"Um agressor de uma série de mulheres" O que diz a carta?
A carta aberta que está na origem da polémica é assinada por Joana Sousa Silva, que se identifica como ilustradora e ex-estudante de cinema, de 28 anos, e refere que "Ico Costa é um agressor de uma série de mulheres".
"As suas agressões são verbais, físicas e psicológicas e ele usa estratégias de intimidação, de chantagem emocional e de vitimização para se justificar dos seus atos. Existem pelo menos seis vítimas, de que eu saiba, entre as quais me encontro e as agressões em questão aconteceram pelo menos ao longo de dez anos", começa por escrever a mulher, na carta aberta divulgada pela página de Instagram +umcasting, que divulga oportunidades de trabalho na área da Cultura e denuncia abusos.
Joana Silva refere que uma das mulheres agredidas pelo realizador chegou a fazer uma "participação à polícia" depois de ter ficado com um "olho negro, descalça na rua a meio da noite”.
"Pessoalmente, vivi um envolvimento com Ico Costa durante seis meses, há cerca de quatro anos. Fui traída, ofendida, chamada de 'p***' e 'vaca', agredida no rosto com bofetadas e na barriga com um soco, tive o cabelo puxado até ser arrancado. Quando me fui embora, decidida a apresentar queixa, tive medo que ele me matasse. Para minha estupefação, ele começou a chorar como uma criança e a pedir perdão. Por causa disso, entendi que era uma patologia e não consegui apresentar queixa, mas desapareci da vida dele e nunca mais nos vimos", relata.
No entanto, a jovem decidiu trazer agora o caso a público depois de ter tido conhecimento, recentemente de "outras histórias semelhantes".
"Está na altura de divulgar o historial de agressões machistas deste abusador em série. Peço a todas as vítimas de Ico Costa que se cheguem à frente e falem. Não permitam que mais um abusador ande impune pelo meio artístico português", concluiu a ilustradora.
Ao perfil da +umcasting no Instagram têm chegado mais denúncias, o que terá levado o realizador, segundo a página, apagar o "perfil das suas redes sociais".
© Reprodução Instagram/+umcasting
Entre os trabalhos retirados pelo IndieLisboa está a mais recente longa-metragem do realizador, 'Balane 3', e outro filme "ainda em pós-produção".
O Notícias ao Minuto contactou a Associação Portuguesa de Realizadores (APR), da qual Ico Costa faz parte, mas ainda sem sucesso.
De acordo com a informação disponibilizada na página da APR, o realizador é natural de Lisboa e tem 42 anos. Estudou na Escola Superior de Teatro e Cinema, na Universidad del Cine, em Buenos Aires, e na Le Fresnoy – Studio National des Arts Contemporains, em Tourcoing, França.
No currículo conta com curtas-metragens como 'Libhaketi' (2012), 'Quatro Horas Descalço' (2012), 'Corrente' (2013), 'Antero' (2014) e 'Nyo Vweta Nafta' (2017), e o documentário 'Barulho, Eclipse' (2017).
Já viu também o trabalho ser exibido em festivais de cinema como a Semana da Crítica de Cannes, Roterdão, Roma, Cinéma du Réel, New Directors/New Films, Oberhausen, Jihlava, Vila do Conde, IndieLisboa, DocLisboa, entre outros.