A reeleição de Donald Trump desencadeou uma série de políticas que têm gerado controvérsia dentro e fora dos Estados Unidos. Entre as ações mais polémicas do presidente americano estão, por exemplo, as sanções impostas ao Tribunal Penal Internacional pela investigação a Israel, a emissão de um mandado de captura contra Benjamin Netanyahu ou a proposta de intervenção em Gaza assente em deslocar palestinianos para outros países. Estas medidas têm sido criticadas por muitos, que veem nelas uma tentativa de Trump subjugar blocos, enfraquecer instituições internacionais e até de se impor globalmente face à ascensão da rival China.

Neste quadro de disputas geopolíticas, o panorama energético global também constitui um reflexo da influência das grandes potências. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (OPEP+) persiste na decisão de corte na produção de petróleo. Esta estratégia impacta diretamente nos preços dos combustíveis à escala global. A Europa, particularmente vulnerável devido à sua elevada dependência energética, sente os efeitos dessas oscilações, o que reforça a urgência de diversificação das suas fontes de energia.

Paralelamente, o grupo BRICS, inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou, no espaço de um ano, a inclusão de seis novos membros, nomeadamente, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, o Irão e a Indonésia. Para além das novas adesões, foram ainda outros oito os países que se associaram ao bloco na forma de aliados. Esta expansão não ocorre isoladamente. Insere-se num movimento mais amplo de contestação à ordem financeira dominada pelo Ocidente. Ao fortalecer-se como alternativa às instituições ocidentais, o bloco BRICS contribui para redefinir os equilíbrios de poder, incluindo no vital setor energético, em que Rússia, Irão e Emirados Árabes Unidos desempenham papéis estratégicos.

Perante este cenário global de transformações, a União Europeia enfrenta desafios significativos, especialmente devido ao seu crescimento económico e demográfico anémico. O envelhecimento da população e a diminuição da taxa de natalidade ameaçam a sustentabilidade das finanças públicas e o dinamismo económico. Para mitigar estes efeitos, a UE necessita de políticas integradas que promovam a inovação, atraiam talento e incentivem a natalidade. Depois, a crescente competição internacional exige à Europa uma abordagem funcional e pragmática à política migratória. Provavelmente, não haverá outra solução para as necessidades do mercado de trabalho europeu.

No setor energético, a UE tem feito alguns progressos, mas a recente reeleição de Donald Trump levanta preocupações a este propósito. O seu forte apoio aos combustíveis fósseis coloca em risco os avanços na transição energética global e pode comprometer a cooperação internacional em matéria climática. Esta conjuntura torna ainda mais urgente para a Europa reforçar a sua autonomia energética e acelerar o processo de transição para uma economia de baixo carbono.

A interseção entre a economia política global e a sustentabilidade energética é evidente nos acontecimentos mundiais atualmente em curso. As decisões políticas dos principais atores globais influenciam diretamente as estratégias energéticas e as dinâmicas económicas. A expansão dos BRICS e a postura da OPEP+ têm potencial para interferir fortemente nos mercados de energia e no comércio internacional. As políticas internas dos EUA, sob a liderança de Trump, têm peso suficiente para redefinir alianças e compromissos climáticos. Para a União Europeia, coloca-se o árduo desafio de garantir crescimento económico e coesão social ao mesmo tempo que não deixa enfraquecer mais a sua posição no novo tabuleiro geopolítico. Não será uma tarefa fácil.

Professor Associado e Coordenador da área de Economia e Gestão da Universidade Europeia