Portugal enfrenta, neste momento, uma das maiores crises estruturais da sua história recente. A fuga massiva de jovens qualificados é um problema alarmante. De acordo com um estudo da Federação Académica do Porto, mais de 73% dos jovens universitários consideram a emigração como uma opção altamente provável. Querem melhores condições de trabalho e de vida. Este cenário não é novo, mas a sua gravidade está a aumentar a um ritmo alarmante, com impactos significativos na economia, nas finanças públicas e no próprio futuro do país.
O problema está longe de ser apenas uma questão de baixos salários, embora este seja um dos principais fatores. De acordo com o Eco Online, em 2023, 75% dos trabalhadores por conta de outrem, com idades entre os 18 e os 45, recebiam até 1.000 euros líquidos mensais, um valor francamente confrangedor, especialmente quando a maioria dos recursos humanos tem formação superior. Este dado revela não só a precariedade das condições de trabalho em Portugal, mas também o desajuste entre as qualificações da força de trabalho jovem e as ofertas de emprego disponíveis no país.
Esta realidade é, infelizmente, confirmada pelos diferentes estudos e inquéritos que têm vindo a ser realizados nos últimos tempos. Aximage, Associação Académica de Coimbra, Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa, Federação Académica do Porto, são várias as entidades que têm confirmado este fenómeno.
Se o atual fluxo migratório continuar, o país poderá registar um prejuízo muito significativo em matéria de receitas. Caso 73% dos estudantes abandonem Portugal, o Estado poderá perder perto de 2.1 mil milhões de euros em receitas anuais durante toda a vida ativa destes estudantes. Serão cerca de 61 mil milhões de euros a menos em contribuições líquidas para a Segurança Social. O impacto na economia nacional é trágico. O país enfrenta já, na atualidade, uma escassez de trabalhadores qualificados, especialmente entre os 25 e os 44 anos, com cerca de menos 500 mil indivíduos em idade ativa face a 2003.
Precariedade laboral, precariedade salarial e a precariedade na habitação são as principais razões que levam tantos jovens a tomar a difícil decisão de abandonar o país
Se não forem tomadas medidas urgentes, Portugal corre o risco de perder a sua população jovem qualificada de forma irreversível. De acordo com a OCDE, a formação de um licenciado em Portugal custa ao Estado português cerca de 100 mil euros. O efeito multiplicador resultante deste investimento em educação é automaticamente perdido quando os jovens deixam Portugal. Isto representa um prejuízo incalculável para o país. A Business Roundtable Portugal também avisa que, em dez anos, Portugal perdeu cerca 200 mil licenciados e que arrisca perder outros tantos nos próximos dez.
Um fluxo migratório com esta magnitude também terá consequências graves no sistema de pensões, que enfrenta, já hoje, muitas dificuldades devido ao envelhecimento da população. Segundo o último Relatório de Envelhecimento da União Europeia, a taxa de substituição do salário pela pensão será inferior a 39%% em 2050. Isto significa que as novas gerações poderão ver as suas pensões reduzidas a menos da metade do valor do último salário. Este quadro resulta do impacto da emigração jovem, que reduz a população ativa e compromete a sustentabilidade dos sistemas de proteção social.
O caminho que Portugal está a seguir não é sustentável. O desenvolvimento do país está hipotecado. A emigração jovem é um problema que não pode ser subestimado, e a sua solução exige ação imediata por parte do governo e das instituições públicas.
O que falta são reformas estruturais, com destaque para a reforma fiscal e para a indissociável reforma da Administração Pública. Sem estas reformas, o país corre o risco de se tornar um "país vazio", com os mais qualificados a procurar refúgio no exterior. Os que ficam vão acabar por enfrentar condições cada vez mais difíceis.
Sem estas reformas, Portugal continuará a definhar no quadro da produtividade laboral na UE, continuará a ver a entrada massiva de imigrantes sem que o país tenha condições para os acolher com dignidade e continuará a ver os jovens portugueses qualificados a fugir em massa do país.
Professor Associado e Coordenador da área de Gestão e Economia da Universidade Europeia