A recente decisão da Administração Trump de interromper as operações do "Cyber Command" contra a Rússia é um sinal muito alarmante para a segurança cibernética global e para a estabilidade geopolítica da NATO e da União Europeia. Esta decisão irá não só enfraquecer a capacidade dos Estados Unidos de se defenderem contra ameaças russas, como também coloca em risco os seus aliados, incluindo Portugal.

A mudança de postura da Casa Branca em relação à Rússia não é uma surpresa. Várias declarações e ações da administração indicam um realinhamento estratégico que ignora a ameaça russa, enquanto foca preocupações na China e no Irão. O afastamento da Rússia das prioridades de cibersegurança reflete-se, por exemplo, na nova política da CISA, que passou a omitir ameaças russas nos seus relatórios e diretrizes.

O impacto desta decisão pode ser devastador e muito duradouro. A espionagem e a manipulação cibernética russa já demonstraram a sua eficácia em eventos anteriores, como as eleições norte-americanas de 2016. Agora, ao reduzir a monitorização e defesa contra essas ameaças, os EUA deixam um vácuo de segurança que pode ser explorado pelo Kremlin para manipular processos democráticos não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa. Esta fragilização da defesa cibernética norte-americana poderá levar a um aumento de operações russas de desinformação e ciberataques direcionados às infraestruturas críticas ocidentais.

Além disso, a influência crescente de magnatas da tecnologia, como Elon Musk e Mark Zuckerberg, que demonstraram apoio à Administração Trump, levanta preocupações sobre a neutralidade das plataformas digitais. Se empresas como Google e Microsoft forem, direta ou indiretamente, influenciadas por essa nova abordagem, a segurança digital de milhões de  europeus pode ser comprometida.

Neste contexto, a União Europeia não pode permanecer inerte. Torna-se imperativo adotar uma estratégia robusta para reforçar a sua segurança cibernética e reduzir a dependência da inteligência norte-americana. Os Estados-membros devem intensificar a troca de informações sobre ameaças e adotar estratégias conjuntas para fortalecer a defesa digital da UE. A criação de centros europeus especializados na monitorização e resposta a ameaças cibernéticas é essencial para garantir a segurança digital do continente. Fortalecer relações com países como Canadá, Japão e Austrália pode ajudar a mitigar os impactos da redução da cooperação com os EUA. Estabelecer padrões rigorosos de cibersegurança e realizar simulações periódicas são passos fundamentais para garantir resiliência contra ataques. Sobretudo, e com urgência, o Data Privacy Framework deve ser revisto para assegurar que as informações dos cidadãos europeus não sejam comprometidas num cenário de fragilidade na cibersegurança norte-americana.

A Europa enfrenta um desafio sem precedentes. A mudança de paradigma nos EUA exige uma resposta rápida e coordenada para proteger a integridade das instituições democráticas e a segurança digital dos seus cidadãos. Se a UE não agir com urgência, poderá encontrar-se vulnerável a ameaças cada vez mais sofisticadas, sem o apoio de um aliado outrora indispensável.

Rui Martins é fundador do Movimento Pela Democratização dos Partidos