Vivemos tempos complicados; a crise política nacional transformou-se num espetáculo a que muitos de nós preferiríamos não ter de assistir. Se estivéssemos numa peça de teatro, seríamos apenas os figurantes, desempenhando os nossos papéis discretamente enquanto os protagonistas se digladiam em cena. E vamos ser sinceros: o povo português, tão persistente e resiliente, é quem mais vai sair chamuscado deste palco vergonhoso.

Enquanto na Europa se fala da possibilidade de uma 3.ª Guerra Mundial, por aqui andamos a escrever milhares de páginas de jornais e a fazer publicações de posts sobre uma narrativa que lembra mais uma brincadeira infantil do que uma discussão séria. "Tu fizeste isto quando estavas no governo, agora fazemos-te nós a ti para ver se gostas..." E, entre as birras políticas, a extrema-direita, com as suas características extremistas e hipócritas, encontra espaço para prosperar, aproveitando as fragilidades dos dois grandes partidos como quem pesca em água turva.

No meio disso tudo, estamos nós, o povo português, que mesmo que quiséssemos punir todos não temos opções. Seja à esquerda ou à direita, o "umbiguismo" prevalece e a satisfação das nossas necessidades acaba relegada para um segundo plano.

Nos últimos meses, assistimos a um capítulo vergonhoso da novela política nacional, onde os protagonistas trocam acusações como se fossem amigos à mesa de um café, discutindo quem deve levar a última bolacha do pacote. Um dia é a incompetência de um partido; no outro, a má gestão do rival. E enquanto tudo isto acontece, quem realmente se preocupa em debater os problemas que nos tocam? A economia vacila, as contas aumentam, e nós, cidadãos comuns, olhamos para o futuro com uma expressão de "já não sei se rio ou choro".

Enquanto os nossos dirigentes debatem quem ficará com o trono mais quente, nós, que andamos a fazer malabarismos com os orçamentos mensais, sentimos o peso das faturas a acumular-se. A inflação, os impostos e as taxas parecem estar a arder à nossa volta, como se fôssemos empurrados para um fogo que não acendemos. E quem é nunca se questionou: "Como é que agora vou conseguir pagar tudo isto?"

Entretanto, a vida continua. Acordamos, levantamo-nos da cama e fazemos o nosso melhor para equilibrar as contas, mantendo os nossos sonhos e aspirações em mente. O nosso país é rico em talento e cultura, mas somos esmagados por decisões políticas impopulares. Numa sala ao lado, alguns iluminados discutem se devem cortar ou aumentar isto ou aquilo, ignorando quem, todos os dias, precisa de decidir entre comprar pão ou aquecer a casa.

Mas aqui está a beleza da resistência portuguesa: não nos deixamos abater facilmente! Estamos a cozinhar com o que temos, a fazer escolhas difíceis entre o que precisamos e o que realmente queremos. Enquanto os políticos discutem quem será o próximo a cair, nós, o povo, continuamos a dar as mãos e a seguir em frente. Somos como aquele grupo de amigos que, apesar das dificuldades, se reúne para um jantar, partilhando sorrisos e histórias de perseverança.

Estamos a viver uma grande rábula, e, como em todas as boas comédias, o riso pode ser a nossa maior arma. Enquanto assistimos a esta peça, lembremo-nos de que somos a verdadeira plateia: não só temos o poder de aplaudir, mas também o poder de exigir um enredo que verdadeiramente nos represente.

Portanto, há que olhar para a frente com determinação. Transformar a indignação em ação, sem nos deixarmos guiar pela revolta cega. Esta rábula nacional deve gerar soluções práticas e eficazes, que beneficiem todos os cidadãos. A mudança que desejamos é feita com diálogo, responsabilidade e a firme certeza de que somos todos fundamentais para um futuro que não seja apenas feito por respostas a crises constantes, mas uma construção consciente de um país onde cada voz importa, onde as decisões são tomadas com responsabilidade e onde o progresso é uma realidade acessível a todos.

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