Ao falar destes nomes, a primeira coisa que nos vem à cabeça são os tempos de glória como atletas. Rui Costa, um dos melhores médios da sua geração, encantou os relvados com a sua classe, na Fiorentina e no AC Milan, antes de regressar ao SL Benfica. Triple H, por outro lado, foi um dos pilares da Attitude Era e da Ruhtless Aggression Era da WWE, tornando-se um dos mais conceituados wrestlers da história.

Mas o que faz esta comparação interessante é que nenhum dos dois se ficou apenas pela sua carreira desportiva. Rui Costa venceu as eleições de 2021 e é o atual presidente do Benfica, enquanto Triple H subiu na hierarquia da WWE (maior empresa de wrestling do mundo) e é hoje o Chief Content Officer ou seja, o responsável máximo de tudo o que acontece ao nível dos enredos.

Ambos souberam usar a sua experiência dentro do campo/ringue para transformar as instituições. O presidente do Benfica trouxe um olhar mais desportivo à gestão do clube, apostando na formação e mantendo a identidade do Benfica; Triple H, por sua vez, já revolucionava a WWE antes mesmo de ter assumido o controlo total, com a criação do NXT — um projeto que redefiniu o wrestling moderno e que aposta nas superstars do futuro, tendo formado alguns dos maiores nomes da empresa, como Roman Reigns, Seth Rollins, Charlotte Flair, Rhea Ripley e tantos outros.

Agora, com Vince McMahon fora do comando, Triple H é o grande responsável pela visão criativa e muitos fãs (partilho desta opinião) acreditam que ele está a devolver ao público a magia que se havia perdido, com histórias mais coesas e combates mais emocionantes, nos quais todo o detalhe importa para o resultado final da história. O wrestling voltou a ser o foco, os combates ganharam o seu tempo e os enredos começaram a ter continuidade e lógica. O impacto foi imediato: as audiências subiram, a WWE fechou um acordo de mais de mil milhões de dólares com a Netflix para os direitos de transmissão do RAW (marca-bandeira da empresa) e dos eventos especiais para o resto do mundo e até os lutadores demonstraram uma maior motivação e nalguns casos a vontade de voltar à empresa.

Uma das maiores críticas à era Vince McMahon era a falta de histórias bem construídas ao longo do tempo. Triple H fez regressar esse conceito, a chamada long-term storytelling, onde as narrativas se desenvolvem de forma orgânica e cativante.

Exemplo perfeito disso? The Bloodline. A história entre Roman Reigns, The Usos, Solo Sikoa e família Anoia'i ficou marcada na memória de todos os fãs. Esta narrativa de poder, lealdade, traições e regressos para manter a honra da família durou mais de um ano e cativava fãs a ligar a Netflix para ver o que acontecia a seguir.

Além disso, Triple H apostou no desenvolvimento de personagens. Superstars como LA Knight, GUNTHER, Sami Zayn e Chad Gable foram valorizados, permitindo que o público se conectasse com eles de uma forma mais genuína. Esta abordagem de apostar nas superstars que poderiam ser vistas como mid-card na era Vince McMahon fez com que melhorasse o espetáculo num todo; até porque se antigamente os combates fora do Main Event tinham cinco minutos, agora podem assumir o papel principal do espetáculo e durar meia hora.

No fim, o que faz destas figuras tão cativantes é que nunca deixaram de ser, primeiro que tudo, fãs do que fazem. Rui Costa é um benfiquista de coração, tal como Triple H é um apaixonado pelo ringue.

Crónicas de um fã, a caminho do Wrestle Mania 41