O recente relatório Estado da Educação 2023, da responsabilidade do Conselho Nacional de Educação (CNE), evidencia de forma clara os problemas que enfrentamos, destacando desafios que, lamentavelmente, persistem há décadas. Talvez o mais grave seja a escassez e o envelhecimento do corpo docente. Na verdade, a dificuldade em substituir os professores que se vão aposentando (em número crescente) é notória, dado que a profissão não consegue atrair jovens. A precariedade das condições de trabalho e os baixos salários, aliados à crescente burocratização do ensino, parecem ser os fatores determinantes neste afastamento das novas gerações da carreira docente.
O relatório também aponta outros aspetos que deveriam preocupar-nos coletivamente. O avanço da digitalização e o impacto da Inteligência Artificial no ensino são realidades inegáveis que vão moldar os próximos anos. Portugal tem feito esforços significativos para integrar novas tecnologias no sistema educativo. No entanto, faltam estudos credíveis que avaliem, de forma concreta, o impacto dessas mudanças na qualidade da aprendizagem. Assim, apesar de o Plano de Capacitação Digital das Escolas parecer um passo na direção certa, ainda não há garantias de que os docentes possuam a formação adequada para utilizar essas ferramentas de forma pedagógica eficaz. A inclusão é outro desafio urgente. Temos assistido a um aumento expressivo do número de alunos estrangeiros nas nossas escolas, mas pouco tem sido feito para garantir a sua plena integração no ambiente escolar e na sociedade portuguesa. Um dos instrumentos fundamentais para essa inclusão, a unidade curricular de Português como Língua Não Materna, continua subaproveitado. O relatório também revela uma enorme discrepância nos resultados académicos determinada pelo contexto socioeconómico dos alunos, com os estudantes de famílias mais favorecidas a obterem sistematicamente melhores desempenhos, o que perpetua desigualdades no acesso a oportunidades futuras.
Todas estas dificuldades refletem-se nos resultados académicos. Curiosamente, o relatório do CNE começa por notar que as taxas de conclusão do ensino básico e secundário são elevadas, para logo sublinhar que os indicadores de aprendizagem deixam muito a desejar. O desempenho em disciplinas como a Matemática e o domínio da língua escrita deveriam ser motivo de preocupação nacional. Os nossos jovens apresentam dificuldades significativas em números e operações, geometria e estatística: no 2.º ano, 69,7%, 57,5% e 60,8% dos estudantes revelaram ter problemas nesses domínios; no 8.º ano, esses valores tornam-se ainda mais preocupantes, atingindo 75,8%, 90,4% e 79,7%, respetivamente. A escrita é também uma área crítica: mais de metade das crianças do 2.º ano (56%) demonstram dificuldades ou são incapazes de responder adequadamente a tarefas de escrita, revelando lacunas na alfabetização precoce. Além disso, os alunos continuam a não ser capazes de utilizar de forma eficaz as tecnologias, evidenciando insuficiências nas competências digitais, algo preocupante num mundo cada vez tecnologicamente mais exigente.
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2022 são uma confirmação destes problemas. Os dados revelam que Portugal perdeu terreno face a edições anteriores: em matemática, a média nacional foi de 472 pontos, uma descida de 21 pontos face a 2018. Mais alarmante ainda, cerca de 30% dos alunos não atingiram o nível mínimo de proficiência nesta área, o que evidencia lacunas graves na aprendizagem. Em leitura, a queda também foi expressiva, com uma média de 477 pontos, 15 pontos abaixo da edição anterior.
Parece claro que a educação em Portugal enfrenta desafios complexos, que precisam de ser resolvidos com a maior urgência, pois o nosso futuro coletivo depende das decisões que tomarmos agora. Fica, pois, a grande questão: estaremos nós dispostos a tomar as decisões que podem garantir um ensino de qualidade para as próximas gerações?
NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.