
À semelhança do recorrente “desconhecimento” sobre a idade dos agricultores portugueses notado na última reflexão (aqui) também parece que ninguém conhece com rigor o nível de instrução dos agricultores nacionais.
A diferença do nível de formação/escolaridade entre os agricultores singulares/individuais e os diretores de empresas agrícolas nacionais é até mais discrepante do que a comparação entre as respetivas idades anteriormente realizada.
Assim, segundo dados do INE, apenas aproximadamente 10% dos agricultores singulares completou o ensino superior enquanto praticamente metade (50%) dos diretores de empresas agrícolas já o possui. E do outro lado da escala os resultados são exatamente na mesma linha. Só 10% dos diretores de empresas agrícolas é que detêm no máximo a formação mínima do 1.º ciclo enquanto que no caso dos agricultores singulares esse valor supera os 50% (ou seja, mais de metade dos agricultores singulares tem no máximo o 4.º ano de escolaridade).
As diferenças são muitíssimo significativas.
É portanto mais uma vez difícil de entender a razão para continuadamente se omitirem/negligenciarem os dados relacionados com as empresas agrícolas.
Com essa opção só se contribui para que a sociedade tenha a perceção de que a agricultura portuguesa é menos instruída e mais velha do que realmente é; para além de se incentivar a que se desenhem ou exijam políticas de resposta com menor eficácia por partirem de dados enviesados.
Esclarecer que não existe nenhuma simpatia em particular pelas explorações agrícolas geridas por empresas em detrimento das explorações agrícolas detidas por agricultores singulares. O que existe é preocupação pelo desempenho do setor agrícola português.
É que, apesar das melhorias verificadas e bem espelhadas no aumento das exportações do setor primário, que aumentaram mais de 500% em termos nominais nos últimos 20 anos, o desempenho da agricultura portuguesa não se pode considerar suficientemente satisfatório para o país.
Justifica-se esta afirmação (controversa) por Portugal não conseguir produzir tantos alimentos como os que consome. Ou seja, Portugal carece de produção agrícola e alimentar externa para satisfazer as suas necessidades.
Numa próxima oportunidade discorrer-se-á exatamente sobre o grau de autoaprovisionamento nacional e o seu impacto no saldo da balança comercial agroalimentar.
Como conclusão, e regressando à mensagem principal, referir que é praticamente unânime identificar o rejuvenescimento e o aumento de formação e de competências como meios para impulsionar o desempenho agrícola nacional.
Ora, os dados não mentem. As empresas agrícolas mostram maior capacidade de atrair jovens e possuir quadros com um maior nível de instrução.