Em matéria de energia, China e EUA avançam a grande velocidade. Ao invés, a Europa continua refém de processos burocráticos e sistemas complexos que limitam o progresso.
Segundo a consultora McKinsey, até 40% do crescimento da procura de energia previsto para os principais países europeus até 2030 pode nunca vir a materializar-se. Esta circunstância coloca em risco o investimento no setor, podendo conduzir a um aumento dos custos energéticos e até à desindustrialização do bloco. A vulnerabilidade energética vai atrasando a Europa, afastando-a cada vez mais dos níveis de crescimento dos EUA e da China e deixando-a cada vez mais à mercê das decisões destes blocos.
A Europa é rica em recursos naturais, como sol, vento, mar e até lítio. O lítio é fundamental para a produção de baterias para veículos elétricos e para o armazenamento de energia renovável. O problema é a complexidade dos sistemas jurídico e político europeus, que dificulta qualquer avanço célere. Em Portugal, o caso da mina de lítio em Boticas é disso exemplo. O projeto, que pode ajudar a reduzir a dependência europeia do lítio chinês, tem enfrentado sucessivos atrasos devido a burocracia e a diferendos legais. O início de produção, previsto para 2026, foi arrastado para 2027.
Enquanto a China vai comprando mina atrás de mina em vários continentes, procedendo internamente a matéria-prima e dominando o mercado de lítio, a Europa permanece radicalmente dependente, com 97% do seu fornecimento vindo, precisamente, da China.
Nos EUA, embora também existam alguns desafios, as políticas no domínio da energia são mais assertivas e com o foco no reforço da independência energética.
A contrastar, a Europa continua sem capacidade para aplicar uma estratégia comum, que alinhe os interesses de todos os Estados-membros. Esta incapacidade tem vindo a enfraquecer o bloco. Os resultados estão à vista. A distância face a EUA e China é já irrecuperável.
Em Portugal, o governo aparenta ter percebido parte deste problema. A propósito da utilização efetiva das verbas comunitárias, o executivo pretende alterar o Código dos Contratos Públicos para evitar bloqueios em obras financiadas pelo PRR, que muitas vezes são atrasadas por contestações legais.
A falta de unidade e de rapidez colocam a Europa numa posição desfavorável face às potências que já dominam as cadeias globais de fornecimento energético. Num mundo onde a transição energética é o maior desafio do século, continuamos a perder terreno. Se a Europa não simplificar processos e adotar uma visão integrada, arrisca-se a ficar irremediavelmente refém das decisões de Washington e Pequim, com um futuro energético marcado pela dependência e vulnerabilidade.
A União Europeia tem muito Sol, muito vento, muito mar, e até tem lítio. Falta-lhe o principal: capacidade estratégica para se unir em torno de desígnios comuns. Esta competência não falta nem aos EUA nem à China.