A defesa da Europa é hoje um tema da maior urgência e complexidade. De facto, as consequências do prolongamento da guerra na Ucrânia evidenciam a magnitude dos desafios que se impõem. Para agravar a situação, as constantes declarações do presidente dos Estados Unidos da América (EUA) e a forma como recentemente destratou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, expõem uma realidade incontornável: a breve trecho, podemos ter de lidar com um eventual descomprometimento americano para com a NATO, esta que é a única e verdadeira proteção da Europa face a ameaças externas.

O grande problema coletivo reside na fragilidade militar europeia, com a bárbara invasão russa a expor as nossas debilidades, tanto em termos de equipamento como de organização. Na verdade, é confrangedor constatar a enorme dificuldade da Europa em assegurar um fluxo contínuo de apoio militar a Kiev, o que evidencia, de forma inequívoca, a nossa dependência estrutural dos Estados Unidos, mesmo em aspetos relativamente básicos como a produção e distribuição de munições. Assim, a ameaça de Donald Trump de retirar a garantia de defesa aos países europeus no âmbito da NATO sublinha, sem rodeios, a vulnerabilidade do velho continente.

Infelizmente, garantir uma defesa eficaz implica custos económicos significativos. Acontece que, durante décadas, a maioria dos países europeus negligenciou o investimento nas suas forças armadas, confiando de forma despreocupada – e quiçá reprovável – na proteção dos EUA. A conjuntura atual exige uma revisão urgente desta postura, mas tal mudança não é simples, sobretudo em tempos de crise económica. A modernização dos três ramos das forças armadas, o reforço da cibersegurança e o aumento do contingente militar são apenas algumas das áreas que exigem financiamento avultado, um esforço que ameaça desequilibrar ainda mais as finanças públicas de diversos Estados europeus. A Alemanha, por exemplo, anunciou um fundo especial de 100 mil milhões de euros para as suas forças armadas, mas enfrenta entraves na implementação. Outros países, como a França e a Polónia, procuram reforçar rapidamente as suas capacidades, mas o ritmo de modernização permanece insuficiente face às exigências do momento.

E Portugal? O que se pode esperar do nosso país neste cenário? A resposta é desalentadora: muito pouco. A realidade nacional é inegável: Portugal encontra-se significativamente atrasado no que diz respeito à capacidade militar e tecnológica. O investimento na defesa tem sido historicamente reduzido – este ano, o Orçamento do Estado aloca apenas cerca de 1% da despesa pública a este setor –, impossibilitando qualquer contributo relevante para a segurança europeia. Não surpreende, portanto, que a Força Aérea opere com equipamento obsoleto, que a Marinha enfrente dificuldades evidentes na manutenção dos seus ativos e que o Exército conte com um efetivo reduzido e mal equipado para os desafios contemporâneos.

Acresce que Portugal não dispõe de uma indústria de defesa que permita qualquer grau de autonomia estratégica, dependendo quase inteiramente de fornecedores estrangeiros para qualquer atualização de equipamento. Tudo isto explica por que razão Portugal é irrelevante nas grandes decisões militares da Europa, algo que se tem tornado ainda mais evidente nas últimas semanas. Enquanto outros países procuram modernizar-se para enfrentar os desafios futuros, Portugal permanece refém de limitações financeiras e estruturais que impedem um papel ativo no atual xadrez geopolítico.

A defesa europeia constitui um dos desafios fundamentais da nossa geração. A guerra na Ucrânia demonstrou que a paz não é garantida e que os investimentos na segurança são essenciais para a prevenção de ameaças externas. A Europa enfrenta um dilema incontornável: ou se adapta rapidamente a esta nova realidade, reforçando a sua capacidade militar e a sua independência estratégica, ou continuará refém de fatores externos que poderão comprometer a sua segurança (e economia). Para países como Portugal, o desafio é ainda mais premente. Sem uma visão estratégica clara e sem os recursos necessários, restará apenas o papel de mero espectador no palco da defesa europeia, com todas as consequências que daí podem advir.

NOTA: Este artigo apenas expressa a opinião do seu autor, não representando a posição das entidades com as quais colabora.