
Cansado e saturado de Lisboa deixei de ter a minha residência oficial em Lisboa. Foi a cidade onde nasci mas que hoje tenho dificuldade em reconhecer.
Os anos Costa e Medina foram o princípio do descalabro e, infelizmente, estes já quase quatro anos de Moedas não melhoraram a situação. A cidade tornou-se desconfortável para os seus habitantes, tem TVDE a mais, o trânsito está cada vez mais caótico, os condutores perderam no ano passado mais 60 horas no trânsito, um número que tem vindo a crescer, os transportes públicos continuam insuficientes. Basta descer a avenida da Liberdade para perceber que em muitas horas a maioria dos veículos são TVDE, frequentemente conduzidos à revelia das regras, cada vez mais envolvidos em acidentes, com o número de atropelamentos urbanos a aumentar.
As zonas históricas foram recuperadas no edificado, mas descaracterizadas nos hábitos e moradores. A especulação imobiliária atira os preços de habitação para valores que estão entre os mais altos da Europa e até já os nómadas digitais se queixam. O comércio tradicional, que vivia esmagado pela proliferação urbana de hipermercados, aproxima-se do grau zero, substituído por lojas de lembranças para turistas que vendem todas as mesmas coisas. De repente, ou há lojas de luxo ou de pechisbeque made in China.
Para muitos portugueses, viver na cidade é já uma miragem. Desde 2017, Lisboa perdeu cerca de 30 mil eleitores que abandonaram a cidade para concelhos periféricos, alterando a sua demografia, que tem menos população jovem e, paradoxalmente, também menos população mais idosa, incapaz de suportar os custos das novas rendas que os senhorios estabelecem.
Uma cidade deve ser um território em transformação. Lisboa, na verdade, transformou-se muito. A dúvida é saber se, para os portugueses, tem progredido.
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