A recente decisão do governo norte-americano de encerrar  as operações da Millennium Challenge Corporation (MCC) coloca em risco o novo ciclo de financiamento prometido a Cabo Verde. A medida faz parte de uma reestruturação orçamental conduzida pelo Departamento de Eficiência Governamental, liderado por Elon Musk, que recebeu carta branca para eliminar programas considerados “pouco eficazes”.

Desde a sua criação em 2004, a MCC tem sido uma ferramenta de política externa dos EUA, oferecendo subvenções para projetos de infraestrutura, reformas institucionais e promoção do crescimento económico em países em desenvolvimento.

Cabo Verde é um dos raros casos que já beneficiaram de dois compactos bem-sucedidos através do programa Millenium Challenge Account do MCC. O primeiro, assinado em 2005, canalizou 110 milhões de dólares para áreas como água e saneamento, agricultura e transportes. O segundo, implementado em 2012, financiou projetos para reforçar a economia e a competitividade e fortalecer o capital humano com mais 66 milhões de dólares.

Com base nesse histórico positivo, Cabo Verde foi selecionado em 2023 para desenvolver um terceiro compacto, centrado na conectividade inter-ilhas, digitalização e integração económica regional. Em 2024, o Governo cabo-verdiano e a MCC avançaram com a fase preparatória, com estudos e projetos em curso que seriam financiados pelo novo acordo. No entanto, com os cortes agora anunciados, o futuro desse financiamento está seriamente comprometido.

De acordo com fontes citadas por órgãos internacionais, a MCC deverá encerrar todas as suas operações até ao final do ano fiscal. Todos os colaboradores foram notificados e muitos programas serão suspensos nos próximos três meses.

As autoridades cabo-verdianas ainda não se pronunciaram oficialmente sobre a decisão, mas acompanham com preocupação os desdobramentos. O vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, havia classificado o 3º compacto como um “voto de confiança” e uma “janela de oportunidade” para a transformação económica do país.

A decisão de Washington, influenciada por prioridades internas e pela visão austera de Musk, poderá ter repercussões que vão além do caso cabo-verdiano, afetando dezenas de países em desenvolvimento e a própria influência diplomática dos EUA no continente africano.

Cabo Verde, por sua vez, terá de redobrar esforços diplomáticos e estratégicos para manter vivo o projeto de transformação que o terceiro compacto da MCC simbolizava.