Donald Trump foi novamente eleito presidente dos Estados Unidos, por vontade soberana e significativa do povo norte-americano. Deste acontecimento não se pode desassociar o receio que a União Europeia sente do impacto económico que pode ter um presidente dos Estados Unidos que deseja, compreensivelmente, "A América primeiro" e tem, portanto, uma ideia protecionista em vários níveis.
A União Europeia, apesar de ser frequentemente mencionada como um exemplo de estabilidade, sendo aliás a razão de vários novos países se quererem juntar à mesma, tem preocupações significativas em relação à nova presidência norte-americana já que tem claramente existido uma falha na construção da sua própria autonomia estratégica, permanecendo dependente dos Estados Unidos. Esta vulnerabilidade surge pela ausência do estabelecimento de prioridades: Há já muito tempo, a União tem canalizado os seus recursos em detalhes burocráticos naquilo que parece ser uma tentativa de microgerenciar a vida dos cidadãos europeus e não criou as condições necessárias para a existência de uma independência estratégica em áreas que se revelam urgentes, como a segurança ou a autonomia energética.
Em 2022, quando começou a guerra na Ucrânia, foi o primeiro momento em que ficámos conscientes dessa realidade, com a crise energética. Tem existido um foco excessivo na imposição de metas verdes que levaram ao encerramento de muitas centrais nucleares e à redução da produção doméstica de combustíveis fósseis sem que seja apontada uma alternativa clara, a insistência em metas ambientais rígidas, sem considerar a segurança energética, é um exemplo de falha estratégica.
A energia nuclear oferece uma fonte estável e de baixa emissão, mas tem sido negligenciada em favor de soluções renováveis que ainda não conseguem atender à demanda energética do bloco gerando uma dependência energética de atores externos. Atualmente, a Europa está energeticamente dependente do gás natural liquefeito norte-americano tendo mesmo sido referido pelo ex-comissário europeu Andris Piebalgs que esperava que a quota parte de gás natural importado dos EUA ultrapassasse os 50% em 2030, o que o colocaria o bloco numa posição vulnerável não só à instabilidade geopolítica como também a flutuações de preço.
Além da energia, a segurança e defesa são áreas críticas nas quais a Europa permanece dependente. Os Estados-membros continuam a negligenciar os investimentos necessários para fortalecer as suas capacidades militares, optando por confiar na NATO, uma aliança fortemente dominada pelos Estados Unidos, para garantir a segurança europeia.
No passado, esta dependência foi alvo de críticas por parte de Donald Trump, que exigiu que os aliados europeus aumentassem as suas contribuições financeiras para a organização. Mais recentemente, JD Vance declarou que o financiamento à NATO poderia ser suspenso caso a liberdade de expressão não fosse garantida na Europa. Embora seja verdade que a liberdade de expressão enfrenta restrições crescentes, especialmente sob regulamentos como o Digital Services Act, vincular este tema à segurança e defesa é inadequado. A liberdade de expressão é uma questão importante que exige atenção, mas utilizá-la como "moeda de troca" em questões de financiamento militar desvia o foco dos problemas reais no que diz respeito à defesa.
Mas vários anos depois da primeira presidência Trump, ainda assim, a Europa não conseguiu tomar medidas decisivas para se preparar para um cenário em que a proteção americana não seja garantida.
É o momento de a União Europeia considerar adotar um modelo de cooperação para a defesa europeia que seja de carácter voluntário, promovendo alianças baseadas nos interesses mútuos dos Estados-membros que desejem participar. Essa abordagem respeitaria a soberania nacional e incentivaria uma colaboração mais orgânica e eficaz. Em contraste, a imposição de um exército europeu, que tem sido considerada, além de ser politicamente sensível, enfrenta sérios obstáculos para avançar de forma ágil ou plenamente democrática, comprometendo a sua viabilidade a curto e médio prazo.
Na área da energia, é urgente reavaliar a política de transição verde para que esta seja realista e não comprometa a segurança energética do bloco, abandonado a rigidez das metas verdes e devolvendo aos Estados-membros a decisão sobre a sua capacidade de produção energética, porque certamente, cada um será mais eficiente com os recursos que dispõe, e não por imposições em decreto.
O regresso de Donald Trump à Casa Branca não deve ser motivo de pânico, mas sim um momento para refletir sobre o caminho de onde a Europa vem e para qual pretende ir. A União Europeia tem os recursos e a capacidade para construir a sua autonomia estratégica e militar, no entanto, isso só será possível se abandonar a sua insistência na regulação e centralização e se concentrar nas áreas que realmente garantem a liberdade, resiliência e independência do bloco. Se não agir agora, corre o risco de enfrentar novamente crises para as quais estará lamentavelmente mal preparada.
Coordenação do movimento Ladies of Liberty Alliance - Portugal e Fellow Young Voices Europe