
Ao que tudo indica, e à hora em que escrevo este artigo de opinião, Portugal vai novamente a eleições legislativas. Contrariamente ao que aconteceu há uma década, os mesmos protagonistas desse tempo – que coincidência! – não cairão no erro de assinar uma privatização da TAP na última hora de um governo de gestão.
Já há quase uma década que comento publicamente os vários dossiers de privatização e/ou de nacionalização das quatro companhias aéreas do Estado português, em particular duas delas: TAP e Azores Airlines. Invariavelmente a minha resposta é sempre a mesma: os prazos referidos para a sua realização na propaganda política são totalmente incompatíveis com este tipo de processo e, em bom rigor, parece-me que o Estado português não está pronto, nem quer verdadeiramente privatizar estas empresas. Existe uma carga ideológica e partidária que vive da existência pública destas companhias: seja para defender a sua manutenção na esfera estatal a todo o custo seja para promover a sua alienação a todo o vapor – em diferentes percentagens e com diferentes graus de exigências estatais, mesmo que algumas delas não sejam legalmente possíveis. E existe também um aproveitamento prático através da criação/manutenção de empregos para políticos sem cargo, através da manipulação partidária sindical ou através dos "prémios" que são distribuídos, como tão bem demonstrou o caso Alexandra Reis que, obviamente, não é único.
Por tudo isto, e por mais que venham ministros e governantes afirmar que, "agora é que é" e que vamos privatizar as companhias aéreas do Estado, sempre que, por algum acaso, nos aproximamos da materialização desse fatídico momento, eis que algo acontece: no caso da Azores Airlines, o governo regional decidiu mandar abaixo o concurso; já na República, e a poucos dias de lançar o caderno de encargos para a privatização da TAP, é o próprio governo que poderá cair.
Recentemente, um dos grupos candidatos – a Air France-KLM – afirmou ser o único que tem a experiência de ter como acionistas dois Estados (França e Países Baixos). Dois Estados "normais", acrescentaria eu. O problema não é apenas a privatização ou a nacionalização, mas sim a forma como estas decisões são tomadas, sempre ao sabor do vento político, sem uma estratégia clara e de longo prazo que apenas sobrevive graças a uma população que paga a conta sem saber exatamente para quê.
Entre promessas de privatização, quedas de concursos ou de governos e supostas exigências de e para Bruxelas, a privatização da TAP, essa, continuará debaixo do tapete.
Docente em Sistemas de Transporte e consultor em aviação, aeroportos e turismo